Promover o voluntariado como ferramenta de transformação social. Em sua 10ª edição, esse é o mote da Associação Voluntários do Sertão, que realiza anualmente um trabalho direcionado à população sertaneja do estado. Cerca de 300 profissionais da área de saúde de várias regiões do Brasil estão no município de Caetité, sudoeste baiano, para oferecer assistência social, realizar atendimentos médicos, odontológicos, cirurgias, além de conscientizar os pacientes por meio de palestras sobre segurança alimentar e nutricional.

Com apoio do Governo do Estado, o projeto pretende alcançar 20 mil atendimentos num universo de aproximadamente 48 mil habitantes, no período iniciado no dia 5 deste mês, com previsão de término no próximo sábado (11). Para isso, os voluntários utilizam toda a estrutura física do hospital municipal e atuam em mais 11 localidades, num raio de 50 quilômetros, e numa comunidade quilombola.

Unidade móvel
Foram mobilizados profissionais de 16 especialidades, com registro de maior demanda por atendimentos oftalmológicos, clínicos e odontológicos. Com receita na mão, quem busca atendimento de oftalmologia, conta também com uma unidade móvel, onde é submetido a exames complementares e recebe, no local, óculos novinhos. “A previsão é que sejam produzidos de três a quatro mil óculos nesses sete dias”, estima o coordenador geral de oftalmologia, Luciano Goulart. A caravana solidária distribui ainda 100 mil itens de medicamentos, kits de higiene, 100 cestas básicas, três mil brinquedos e complemento alimentar para crianças e idosos. Segundo o secretário da Saúde, Jorge Solla, desde ano passado, o governo vem assumindo uma parceria e apoiando o projeto.

Mutirão
Uma das mais representativas ações de voluntariado empreendidas no Brasil, o mutirão que cumpre uma maratona de atendimentos, contabilizou mais de 45 mil consultas em todas as edições e teve a participação de quase duas mil pessoas. Segundo o presidente e idealizador do projeto, Doriedson Pereira, a ação mobiliza motoristas, cozinheiros, pilotos de avião, auxiliares administrativos e populares, que se engajam na proposta com o intuito de ajudar na execução do trabalho.

“O Voluntários do Sertão nasceu em Ribeirão Preto, São Paulo, da experiência de um nordestino que saiu de Alegre, distrito de Codeúba, e viveu de perto as carências desse povo”. E lembra: “Quando tinha médico na zona rural era uma vez por mês e, muitas vezes, estes profissionais não tinham como medicar seus pacientes, pois nos postos de saúde não existiam os medicamentos necessários.”

Pela primeira vez na caravana, o dentista Otto Orsi pretende participar mais vezes do mutirão. “Doamos uma semana de nossas vidas para essa população do nordeste. Eles precisam muito desse atendimento. Nunca vou esquecer essa experiência. A equipe é bastante preparada e muitos inclusive trazem seus equipamentos para cá”.

Satisfeitos com o atendimento
Nem o sol a pino e muito menos o tamanho da fila, amedrontaram seu Sebastião José. O agricultor saiu da roça em busca de medicamento para ele e para o sobrinho. “Muitas pessoas vão ser atendidas ainda hoje. Não podia perder essa oportunidade de fazer esses exames. Esperei por muito tempo”.

Quatro minutos foram suficientes para seu Alvino de Brito sair da escuridão e voltar a enxergar como na juventude. Quando anunciaram seu nome teve que contar com o auxílio de enfermeiros para entrar no centro cirúrgico. Ele passou por uma cirurgia de catarata. E, ao sair, voltou com outro semblante -“estou enxergando bem. Antes era um ‘marelão’ e a vista era meio turva. A cirurgia foi ótima e não senti nada”.