A colheita de alho na localidade de Taquarendi, distrito do município de Mirangaba, a 366 quilômetros de Salvador, deve alcançar a marca de 800 toneladas em 2007. Lá, onde existem cerca de 100 hectares plantados, a safra foi de apenas 150 toneladas em 2003. O crescimento da produção na região acompanha os números de todo o estado, que nos últimos quatro anos, deram um salto de três mil toneladas por hectare para cerca de oito mil.

O desempenho coloca a Bahia como o quinto maior produtor de alho do país – atrás apenas dos estados de Goiás, Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Com as condições naturais favoráveis e o apoio dos órgãos oficiais, porém, a Bahia tem potencial para alcançar a primeira posição.

Após o plantio, entre março e junho, a fase da colheita no Vale do Taquarendi começa agora em julho e vai até outubro. No local, particularmente, o salto na produção é resultado do apoio técnico e do trabalho de melhoramento genético e sanitário que vem sendo promovido desde 2003 pela Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA) e pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que apresentaram ao produtor novas variedades de sementes de alho.

A Embrapa trouxe a chamada semente isenta de vírus, denominada de alho “amarante”, enquanto a empresa baiana introduziu a variedade “roxo pérola de caçador”, cultivada no Sul do país e conhecida como alho “vernalizado”. A nomenclatura se deve ao processo de vernalização pelo qual as sementes de alho são submetidas antes do plantio.

Através dele, a semente é colocada na chamada câmara de vernalização, localizada no próprio distrito de Taquarendi, onde fica a temperaturas de 2ºC a 5ºC por 45 a 55 dias. O choque frio funciona como um catalisador no processo de maturação do alho, o que acelera a sua germinação e aumenta a sua produtividade.

“Após a vernalização, a semente é plantada e já deve estar germinando em dois dias”, explica Gilson Pedro de Amorim, chefe do escritório da EBDA em Taquarendi. Ele explica ainda que as duas variedades estão sendo utilizadas em substituição à semente “cateto roxo”, de baixa produtividade e de baixo poder germinativo. O alho de Taquarendi é vendido em Jacobina e também em outros estados, como Sergipe, Alagoas e Piauí. A diferença básica entre o alho “amarante” e o alho “vernalizado” é justamente a forma de comercialização. Enquanto o “amarante” é vendido em réstias, os bulbos do alho “vernalizado” são empacotados e vendidos em saquinhos.

Em Taquarendi, a plantação e a colheita do alho geram 600 empregos diretos. Levando em conta a comercialização do produto, alcança-se a marca de 3,5 mil postos de trabalho. A mão-de-obra é formada por trabalhadores rurais que praticam a agricultura de subsistência.

A orientação técnica da EBDA também busca minimizar o impacto da aplicação de inseticidas na lavoura, indicando a substituição de adubos químicos por adubos orgânicos no preparo do solo. Entre as opções, estão o tradicional esterco rural e o pó-de-rocha – produto rico em fósforo que é trazido de Irecê.

Colheita generosa

As boas perspectivas têm animado os produtores da região. O agricultor Firmino Neto, 46 anos, conhecido como Netinho, conta que colheu sete mil quilos de alho no ano passado e espera uma colheita ainda mais generosa este ano. Com uma plantação de oito mil metros quadrados, ele cultiva alho desde 2001 e está satisfeito com as novas variedades introduzidas. “Cheguei a pensar em desistir por causa da baixa produtividade, mas as coisas melhoraram nos últimos anos. Antes, colhíamos pouco mais de duas toneladas por hectare e agora estamos em cerca de 13 toneladas”, afirma Netinho, que tem no alho sua principal fonte de renda.

O mesmo otimismo é visto no produtor Gildeon Carvalho Lago, 30 anos, que cultiva alho seguindo uma tradição de família. “A maior produtividade do alho elevou nossa qualidade de vida. Agora, podemos obter crédito no banco para financiar as nossas atividades e eu até já consegui comprar um carro”, conta o agricultor, pai de um casal de filhos.

O produtor Antônio Amorim Mendes, 49 anos, também trabalha com alho desde criança e festeja a possibilidade de colher 12 toneladas este ano. “Antes, eu só colhia quatro toneladas, pois a semente era ruim e não havia orientação técnica”.

Próxima a Taquarendi, está a localidade de Caatinga do Moura, também produtora de alho, um dos principais produtos cultivados nos dois vales. Na região, destaca-se ainda a produção de banana d’água e de goiaba, usadas para a fabricação de doces. Ao lado de Taquarendi e Caatinga do Moura, os municípios de Cristópolis e Cotegipe, na região de Barreiras, além de Boninal e Novo Horizonte, na Chapada Diamantina, também são considerados os maiores produtores estaduais de alho, representando quase a totalidade da produção.