Com a maior área plantada de mandioca do Brasil e sendo o segundo maior estado produtor da raiz (ficando atrás do Paraná), a Bahia ainda importa fécula e farinha para consumo humano. Para reverter essa situação, o governo estadual, por meio da Secretaria da Agricultura (Seagri), deu o primeiro passo na última sexta-feira, quando o secretário Geraldo Simões esteve em Cruz das Almas visitando a unidade da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical.

Segundo o secretário, o ponto forte da visita ao município, que fica a 146 quilômetros de Salvador, no Recôncavo baiano, foi o contato com a unidade da Embrapa e a celebração de dois convênios com a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). “Cruz das Almas é um centro de tecnologia da agronomia do estado, por isso vamos dar aqui os primeiros passos. Nossa idéia é utilizar as tecnologias e projetos dessas instituições e aplicá-los no estado, para ampliar a produtividade e melhorar as condições dos agricultores familiares”, explicou.

No caso da Embrapa, o secretário deixou claro que o objetivo é introduzir tecnologias mais avançadas no que diz respeito ao cultivo e ao manejo da mandioca e das frutas tropicais. “Vamos transferir os conhecimentos adquiridos na Embrapa para implementar a cultura da mandioca, mudando a realidade do estado neste setor”, disse.

Embrapa

Na da comitiva da Seagri, foram apresentados slides com a história da unidade, implantada na década de 40, além de metas e projetos a serem desenvolvidos este ano, a exemplo da revitalização da citricultura, fortalecimento da produção e industrialização da mandioca, melhoramento do maracujá e incentivo ao desenvolvimento de novos produtos para a verticalização da produção.

Para o chefe da unidade, José Carlos Nascimento, essa visita aponta um novo momento de estreitamento de relações entre a Embrapa e o governo da Bahia. “Esta é uma oportunidade muito importante para trabalharmos em conjunto, proporcionando uma nova realidade, gerando emprego e renda. Vamos viabilizar uma estratégia para que sejam desenvolvidas com mais desenvoltura as culturas da mandioca e da fruticultura, no que diz respeito ao processamento, além de fazer um levantamento das condições do solo no estado em grande escala”, informou Nascimento em relação às propostas analisadas na visita da equipe da Seagri.

A unidade da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical tem como objetivo viabilizar soluções para o desenvolvimento sustentável do agronegócio mandioca e fruticultura por meio de geração, adaptação e transferência de conhecimentos e tecnologias em benefício da sociedade. Ali são cultivados abacaxi, acerola, banana, maracujá, manga, mamão, citros e mandioca.

De acordo com o presidente da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), Emerson Leal, as alternativas apresentadas pela Embrapa são muito positivas e a parceria trará bons frutos, principalmente para os agricultores familiares. “A Embrapa é referência em todo o país, inclusive na América Latina. Portanto, essa parceria tende a alavancar a nova fase da EBDA com a retomada da cultura da mandioca e citros”, disse.

Podridão vermelha

Depois de visitar a unidade, a comitiva seguiu para a Reitoria da UFRB, onde fica a mais antiga Escola de Agronomia da América Latina. Ali, foram celebrados dois convênios com a universidade e a Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab). O primeiro convênio prevê o controle da podridão vermelha do sisal, principal praga que atinge a cultura no estado.

Para o diretor-geral da Adab, Altair Santana, o convênio assinado mostra a preocupação do governo da Bahia com um dos principais produtos de exportação do estado, o sisal, que vem apresentando prejuízos ao agricultor na medida em que diminui a produtividade. “O semi-árido é uma das prioridades nas ações da Seagri e esse convênio fortalece a cultura do sisal, a principal da região, reduzindo as perdas provocadas pela podridão vermelha”, afirmou.

A estimativa é que o controle da praga beneficie inicialmente cerca de 6 mil famílias de pequenos agricultores em 16 municípios, entre eles, Araci, Campo Formoso, Conceição do Coité, Gavião, Capela do Alto Alegre, Senhor do Bonfim, Santa Luz, Pé de Serra, Nova Fátima e São Domingos. O estado, maior produtor de sisal do país, tem essa fibra como seu segundo maior produto agrícola de exportação e responde por aproximadamente 94% da produção nacional, que é de 187.186 mil toneladas, segundo dados de 2004 do IBGE.

“Nosso forte é a área de ciências agrárias. Por isso a importância desses convênios, um deles para estudo da doença do sisal e o outro, mais amplo, para a utilização do Centro de Ciências Agrárias para o desenvolvimento de pesquisas”, ressaltou o reitor na UFRB, Gabriel Nacif.

Assinatura de mais convênios

Na Câmara Municipal de Cruz das Almas, outros convênios foram assinados com a prefeitura. O primeiro foi para a retomada do programa Flores da Bahia, que beneficia 22 famílias. O secretário assinou também convênio de parceria para a realização da 3ª Expoflores, que será realizada em setembro deste ano, e para a permanência de dois tratores da EBDA, via comodato, até dezembro de 2008. Finalizando o seu roteiro, o secretário visitou a unidade do Flores da Bahia.

Segundo o prefeito de Cruz das Almas, Orlando Peixoto Pereira Filho, a retomada do programa é uma reparação do governo estadual, “porque ele estava parado há quase um ano sem a contrapartida do Estado, funcionando apenas com recursos da prefeitura”, disse.