Pesquisadores e restauradores do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac), da Secretaria da Cultura, estão catalogando 1,2 mil peças de arte de diversos países da África doadas em 2004 ao governo da Bahia.

Segundo o diretor-geral do Ipac, Frederico Mendonça, a catalogação integra o conjunto das ações que estão sendo planejadas para a comemoração dos 40 anos de fundação do instituto. A reabertura da conceituada biblioteca desse órgão estadual, prevista para novembro deste ano, também deve marcar as festividades dos 40 anos.

“A idéia é possibilitar que as peças fiquem expostas permanentemente em todo um andar do Solar Ferrão, no Pelourinho, para a visitação pública gratuita”, disse Mendonça.

O trabalho de catalogação das peças africanas que vem sendo encampado pelo Ipac permitirá a estruturação futura de um museu para expor as artes plásticas produzidas por diversas etnias da África. “Esse espaço permitirá mais reflexão e estudo sobre a ponte cultural efetiva que existe entre as nações africanas e a cultura afro-brasileira na Bahia”, afirmou o diretor.

As peças africanas pertenceram ao italiano Claudio Masella, industrial apaixonado por arte, já morto, que morou por muitos anos na Nigéria e Senegal. O acervo traz estatuário em madeira, bronze, marfim e terracota com figurações de reis e rainhas, seres míticos e máscaras de lugares variados do continente africano.

A diversidade e a riqueza do conjunto das peças do Ipac desmistificam mais uma vez o conceito de ‘arte estática’ empregado durante décadas por potências ocidentais às culturas do continente africano.

‘Artesão’

“Esse ideário nefasto fez com que se negasse a existência da história e das artes da África, levando seus ideólogos a chamarem o artista africano de ‘artesão’, no sentido pejorativo do termo, como se ele não fosse dotado de criatividade e determinação”, explicou o historiador e africanista Ademir Ribeiro Júnior, que integra a equipe do Ipac.

A Coleção Claudio Masella do Ipac está ainda em processo de pesquisa, por isso não se pode afirmar a origem específica dos materiais e o período exato da produção. “O estudo de coleção tão ampla demanda muito tempo”, disse Ademir, também mestrando em Arte da África pela Universidade de São Paulo (USP). “Até agora, só identificamos obras originárias de seis países e 20 grupos étnicos”, destacou.

Apesar da influência de povos africanos na cultura brasileira, sobretudo na baiana, pouco se conhece das artes plásticas desse continente no Brasil. “Tivemos dificuldade de encontrar especialistas na área, porque há poucas pessoas com estudos dessa linha no país”, observou o responsável pela Coleção Claudio Masella, Antônio Luiz Figueiredo.

Além de servidor do Ipac, Antônio Luiz é mobá de Xangô – espécie de ministro de Xangô – de um dos mais tradicionais e respeitados terreiros de candomblé da Bahia, o da Casa Branca.

“Pelo conhecimento que trazemos em cultura africana e pela importância do acervo é que empenhamos forças para a fundação desse museu que deve ser referência na Bahia”, disse Figueiredo.