A introdução do ensino médio nas áreas do campo na Bahia foi tema de discussão a partir de uma videoconferência promovida pela Secretaria Estadual da Educação (SEC), ontem (15), no Instituto Anísio Teixeira (IAT). Para isso, como ficou estabelecido no evento, será necessário implantar uma política pública que ofereça e garanta o acesso ao ensino e à educação profissional, seguindo metodologias e matriz pedagógica, que respeitem os saberes acumulados, as demandas e a cultura local de cada região.

No Projeto de Ensino Médio e Educação Profissional para os povos do campo do Estado da Bahia, preliminarmente apresentado, há uma indicação de quem serão esses educadores e a maneira como seriam capacitados. A idéia é formá-los em cursos de licenciatura em educação do campo. “Esses professores precisam ser pessoas sensíveis à luta e às questões do campo. E eles terão sua participação ampliada e melhorada se forem capazes de realizar esse ensino para a pessoa do campo, através de conteúdos das ciências agrárias, das ciências humanas e sociais, da arte e da cultura e da linguagem matemática”, explicou a coordenadora de Educação no Campo da SEC, Sandra Magalhães.

Foi apontada a necessidade de se construir mais 104 unidades escolares nas regiões de campo. Este ano, o Ministério da Educação deve destinar R$ 100 milhões para a construção de escolas nas regiões agrárias, principalmente nas áreas onde há remanescentes de quilombos e assentamentos. Haverá ainda a expansão de vagas do Programa Saberes da Terra (ensino fundamental e profissionalizante para jovens e adultos) de cinco mil para 190 mil, das quais 30 mil serão disponibilizadas em 2008 – na Bahia o programa atende a 300 educandos e deve dispor de 3,5 mil vagas.

As verbas para reparo e aquisição de materiais (Programa Dinheiro Direto na Escola – PDDE) serão aumentadas em 50% para as escolas do campo. “É preciso que a Bahia se mobilize”, disse Armênio Schmidt, do MEC, que participou da videoconferência direto de Brasília-DF.

Analfabetismo

“É um trabalho feito do começo, pois não encontramos qualquer política que contemplasse a educação no campo”, comentou a coordenadora. A Bahia possui 38% de sua população habitando áreas de campo, onde se registra analfabetismo em torno de 20,4%, ainda maior quando considerado o índice de analfabetismo funcional, 55,6%. Apenas 34 mil dos mais de 722 mil alunos matriculados no ensino médio da rede estadual estão no campo e pelo menos 138 mil alunos do campo têm que ser transportados para escolas na cidade.

A coordenadora Sandra Magalhães ressaltou que esses dados deveriam ter sido motivo para estudos para uma política de educação do campo no estado. Prevê-se que, em setembro esteja concluída a fase de estudos e que seja apresentada a proposta para a educação dos povos do campo. “É preciso constante diálogo com o MEC, com as prefeituras, universidades e movimentos sociais e sindicais inseridos nestas questões da terra. E a Bahia possui estudos feitos sobre educação do campo na Ufba, na Uneb e na Uefs. Precisamos, a partir disso, construir uma rede de educadores”, comentou Sandra.

Especificidades territoriais

O secretário da Educação, Adeum Sauer, ressaltou a importância de se desenvolver uma política de educação que forme escolas dinamizadoras do crescimento das populações do campo. “Na Bahia, há uma orientação de trabalhar em dez territórios mais ou menos homogêneos. É preciso fazer com que a educação do campo contemple as especificidades de cada território”, enfatizou.

Sauer expôs ainda sua preocupação com os movimentos migratórios do campo para a cidade, lembrando que ”o campo, numa lógica de privilegiar a cultura urbana e industrial, foi classificado como local de atraso, o que é um erro”.

O secretário defendeu que mais reuniões através dos recursos de videoconferência devem ser realizadas pela SEC, principalmente quando houver discussão de projetos que impliquem transformações em diferentes regiões do estado. “Nada na SEC está fechado”, ressaltou o secretário, referindo-se à maneira aberta e democrática como são discutidos os projetos e programas no Governo da Terra de Todos Nós.