Comunicação, cultura e arte sob a perspectiva da TV pública no Brasil são os principais assuntos abordados durante o Workshop de Programação para TV Pública iniciado hoje (22) no hotel Sol Vitória Marina, em Salvador. O evento, que termina na sexta-feira (24), contará com painéis e mesas de debate, buscando sintetizar conceitos norteadores para o planejamento de programação frente ao cenário de convergência tecnológica e a implantação do sistema de TV digital.
Promovido pelo Ministério da Cultura, Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Secretaria de Cultura da Bahia e com apoio da Associação Brasileira das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais, o workshop reúne gestores públicos, programadores, produtores, diretores, cineastas, roteiristas, professores, pesquisadores e críticos.
“Está saindo o último trem. Ou nós pegamos, ou não haverá mais TV Pública no Brasil”, declarou o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins. Ele afirmou que o workshop está sendo realizado para discutir temas e dificuldades para a programação da TV pública. “Com a chegada da TV digital, ou nós somos capazes de dar um salto na oferta de conteúdo ou vamos ficar de tal forma para trás que nós seremos periféricos e praticamente não existiremos mais”, afirmou.
Para Martins, o objetivo é abrir para o que ficou represado na sociedade ao longo dos anos. Ele observou que a TV comercial tem a lógica do lucro e precisa reunir audiência e vender publicidade, remunerando seu capital. “Já a TV pública não vê o expectador como consumidor, mas como cidadão que quer desenvolver seu espírito crítico, além de dar vazão ao que está represado em termos de produção independente e regional”, declarou. Ele afirmou que a produção audiovisual brasileira está pronta para atender a essa demanda, mas é uma oferta reprimida que atualmente não tem como se realizar.

Autonomia

Martins lembrou da importância da autonomia em relação ao governo. “Será criado um conselho gestor para fiscalizar a aplicação dos princípios da emissora e garantir a isenção”, informou. O ministro disse que é preciso tomar cuidado para que pequenas divergências não se imponham. “Os adversários acreditam que não precisam nem combater a TV pública, pois crêem que ela mesma, nas suas contradições, se afundará”, afirmou. Mas destacou que acredita que prevalecerá uma maturidade que se sobreporá a essas divergências.
O jornalista Paulo Henrique Amorim disse que já trabalhou na TV Cultura de São Paulo durante o governo Covas, onde não houve nenhuma interferência política no seu trabalho. “Havia lá uma máxima ser independente do Estado e do mercado. Vamos ver, por exemplo, o que vai acontecer com a TV Cultura de São Paulo durante o governo Serra”, comentou. Para ele, essa será uma maneira de se discutir se a TV pública do Brasil será subordinada ao Estado ou não.
Quanto à competição entre as TVs comerciais e públicas, Amorim disse que são proporções diferentes. “A TV pública não pode pretender ter as mesmas audiências das maiores emissoras, mas tem que ter audiência, pois do contrário, ela não interessa e significa jogar dinheiro fora. A TV é para ser vista”, argumentou.

Amadurecimento democrático

O governador Jaques Wagner defendeu a TV pública. “Eu creio que nós sejamos capazes de produzir algo que o Brasil precisa neste processo de amadurecimento democrático das nossas instituições”, afirmou. Para ele, a função do Governo do Estado é abrir caminho para aqueles que estão querendo explorar novas áreas do conhecimento. “Estamos saindo de um modelo onde o Estado era confundido como dono da sociedade para outro onde se tornam parceiros, realizando diálogos, e a TV pública é um instrumento nesse aspecto”, opinou.
Wagner disse que não vê a TV pública disputando espaço com a comercial, mas oferecendo uma qualidade de programação diferenciada. “É desse processo de construção da democracia que se constrói determinado tipo de programação na área cultural ou de informação desprovida da contaminação empresarial ou estatal”, declarou.
O professor Jorge Portugal, apresentador do programa Aprovado, afirmou que “a função da TV pública é justamente essa democratização do saber que nós esperamos há tanto tempo”. Para ele, a emissora não se confunde com TV estatal e vem ao encontro das necessidades e desejos de comunicação e expressão do povo brasileiro.
Portugal lembrou que a Bahia possui o pior índice de educação no Brasil e acha que a TV pública é uma oportunidade para reverter esse quadro. “Ela tem a capacidade de se tornar uma grande escola sedutora, que leve a informação de uma forma muito gostosa e positiva”, avaliou.
No site do evento, com acesso pela página www.irdeb.ba.gov.br, estão sendo transmitidos os painéis e mesas do Workshop de Programação para TV Pública em tempo real. A TVE Bahia fornecerá diariamente material jornalístico sobre o evento durante o período de sua realização.