O estudante Leonardo Moreira, de Uruçuca (extremo sul), e Eduardo Azevedo, de Rio de Contas (Chapada Diamantina), viajaram mais de oito horas, com mochila nas costas e muita disposição até chegar em Ilhéus, no último sábado (22), onde se uniram a mais de 250 jovens, no Encontro da Juventude Pelas Águas, promovido pela Superintendência de Recursos Hídricos (SRH). Depois de muito debate elaboraram a Carta Coletiva das Águas.
O documento será somado às outras cartas elaboradas pelas comunidades tradicionais envolvidas na série “Encontro Pelas Águas” para apresentação na Conferência Estadual de Meio Ambiente, prevista para março de 2008. Seja em forma de verso e prosa, por meio de cordel ou paródia, a juventude baiana mostrou criatividade e, sobretudo, consciência da necessidade da preservação e conservação das águas.
Acompanhados por moderadores, os jovens reunidos na Faculdade de Ilhéus, fizeram um levantamento dos problemas relacionados aos recursos hídricos nas Bacias Hidrográficas, onde moram. As discussões foram baseadas em quatro eixos temáticos – “Nós e a Água”, “Problemas da água no lugar em que vivemos”, “Nossos sonhos para a água” e “Nós e a gestão das águas”.

Políticas Públicas

Os jovens propuseram, entre outras coisas, o desenvolvimento e ampliação de programas na Bahia sobre o reuso da água e o aproveitamento da água da chuva com tecnologia acessível, e sugeriram a execução de um programa de formação de Agentes Ambientais Comunitários juvenis em todos os municípios. Além disso, a potencialização do Programa de Educação Ambiental nas redes formal e informal de ensino, com implantação do Sistema de Gestão Ambiental (SGA) nas escolas.
Também apontaram a necessidade do replantio de árvore nas margens dos rios e direcionamento total dos esgotos para os centros de tratamento e saneamento básico. Destacaram ainda a necessidade de fiscalizações com punições efetivas aos que poluem as águas, e um trabalho intenso de educação ambiental nas zonas urbana e rural. Propuseram o estímulo às campanhas de reciclagem de lixo, de forma que essa prática seja compensada com descontos nas contas públicas, como as de água e luz.
O diretor-geral da SRH, Julio Rocha, disse que as propostas apresentadas pelos jovens mostram o grau de compromisso deles com as atuais e futuras gerações. Falou que é preciso considerar esses “novos olhares” para a construção de políticas públicas que, verdadeiramente, contemplem a proteção dos recursos hídricos e do meio ambiente como um todo.
“Vivemos um passado de exclusão, escravidão e, hoje, temos um governo democrático, cujo desafio é pensar a Bahia diversa, a Bahia como um todo. A juventude é um segmento muito importante e ouvi-la nos dá uma dimensão de políticas específicas que o estado tem que ter com a juventude. Movimentar a juventude é traçar os direitos que se quer com relação à água”, afirmou Rocha.
O secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Juliano Matos, parabenizou a SRH pela realização do encontro e afirmou aos jovens “tratar-se de uma festa da democracia, da participação. Esse é um ato revolucionário, do diálogo, da re-fundação do nosso estado para criar uma política com a cara dos baianos. Vocês são indispensáveis, precisamos de renovação. O planeta está no limite e a gente não pode abrir mão de convocar a todos para fazer a diferença no cotidiano, na nossa vida”, enfatizou.

Depoimentos

A Carta pelas Águas traduziu o desejo e a preocupação dos jovens com o amanhã. O índio Jaborandy Yandê, 20 anos, compareceu ao encontro acompanhado por outros jovens da Tribo Tupinambá de Olivença, que reúne 22 comunidades, com cerca de 6.300 índios cadastrados, de acordo a Funai. O índio denunciou que crianças já morreram em sua aldeia por causa da contaminação, por agrotóxico, da água do Rio Maruim.
Jaborandy deu uma aula para os jovens ao falar da relação que os povos indígenas têm com a natureza. “Nossa mãe é a natureza. E um fim leva ao outro. Nossas matas estão sendo desmatadas, os rios prejudicados com um abatimento muito forte, os animais extintos e os povos sofrem”.
O representante dos povos indígenas falou também como a ação humana está prejudicando sua comunidade. “Nós medo de beber a água do rio que passa no fundo de nossa casa. Estão esquecendo que a gente vive pela natureza. A gente precisa se preocupar com as águas, com as matas. Por isso, esse evento é fundamental para desenvolvermos ainda mais essa consciência”, assegurou.