O Pelourinho, no centro antigo de Salvador, foi o local escolhido pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac) para sediar a exposição Tradição e Criatividade nas Artes da África, que estará aberta gratuitamente ao público a partir da próxima quarta-feira (18), no Solar Ferrão (Rua Gregório de Mattos, nº 45). A mostra reúne cerca de 90 peças de várias etnias e países da África, traçando um panorama da arte negra daquele continente.

Peças étnicas iorubá da Nigéria, das nações senufo e baulê da Costa do Marfim, ou das etnias bamum, tikar e bamileke originárias de reinos da República dos Camarões são algumas das atrações que poderão ser apreciadas pelo público nessa importante exposição.

Segundo o diretor-geral do Ipac, Frederico Mendonça, a mostra representa cerca de 6% do total de peças africanas disponíveis no instituto. “O Acervo Cláudio Masella de Artes da África, doado ao Governo da Bahia e sob responsabilidade do Ipac, detém 1,2 mil peças, mas a exposição exibirá os principais exemplares ordenados por suas características étnicas e artísticas, o que possibilitará o conhecimento geral do acervo”, explica Mendonça.

Ao término da exposição, o acervo fica em exibição permanente em todo um andar do Solar Ferrão, casarão do século XVII tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), de propriedade do Ipac e localizado no centro da região do Pelourinho.

Depois de dois anos, quando devem terminar as obras de implantação do Museu Nacional da Cultura Afro Brasileira (Muncab), o acervo muda para um dos imóveis doados pelo Governo da Bahia, um deles o eclético e imponente prédio do antigo Tesouro, localizado atrás da Igreja da Ajuda, na Rua do Tesouro, centro de Salvador.

Para o historiador, africanista e curador da exposição do Ipac, Ademir Ribeiro Júnior, essa é uma boa oportunidade para se conhecer a arte tradicional africana. “A importância concentra-se mais na arte que é feita por vários segmentos étnicos”, relata o especialista.

Um dos destaques é um trono real feito em liga de cobre da região da República dos Camarões, cuja matéria-prima é rara no país denotando que foi importado e pertenceu a uma poderosa família. “Os elementos iconográficos expostos no metal, como a figura de uma rainha, a representação de ancestrais, a técnica de fundição lost wax, entre outras características, demonstram que o trono era de uma família real influente”, diz Ribeiro Júnior.

Colecionador

A coleção de Artes da África do Ipac foi doada em 2005 pelo arquiteto italiano Claudio Masella para o governo estadual. Nascido em 1935 e morto em fevereiro deste ano (2007), Masella era empresário do ramo de móveis e abriu diversas fábricas na Itália, Romênia e África, entre as quais uma na Nigéria. Foi durante o período em que viveu no continente africano que iniciou sua coleção. No final dos anos 90, casou-se com uma brasileira e mudou-se para o Brasil, conhecendo Salvador.

“A coleção ia ser vendida para museu em Los Angeles (EUA), mas ao perceber a presença maciça de afrodescendentes e a força da cultura afro em Salvador, Masella decidiu-se por doar a coleção para a Bahia”, conta Antonio Luiz Figueiredo, responsável pelo acervo do Ipac. A exposição Tradição e Criatividade nas Artes da África do Ipac fica em cartaz até o final de setembro, de terça a sexta, das 10 às 18 horas. Aos sábados e domingos, das 13h às 17h. A entrada é franca.