O espetáculo O Poste, A Mulher e O Bambu, do grupo Dimenti, será a próxima atração do projeto Quarta que Dança, da Fundação Cultural do Estado da Bahia. A estréia, em Salvador, acontecerá no próximo 19 de setembro, às 19h, na Sala do Coro do Teatro Castro Alves, com ingresso a R$ 2 (preço único). Os paulistas foram os primeiros a assistir, em março passado, a montagem que tem a direção do coreógrafo Jorge Alencar e faz um passeio pela obra de Nelson Rodrigues, abordando a idéia de confissão presente na dramaturgia do autor.
O trabalho, também contemplado pelo programa Rumos Itaú Cultural Dança, é resultado de uma pesquisa cênica elaborada pelo Dimenti sobre a obra de Nelson Rodrigues. A confissão nos textos rodrigueanos aparece por meio de procedimentos narrativos, personagens, recorrências e rubricas, em meio a dilemas vividos pelos personagens. Purgação de culpas e tabus sociais são presenças em temáticas como família, incesto, traição, vingança, e muitos outros.
A tradução coreográfica dos textos lança mão das próprias indicações corporais encontradas nas rubricas das peças de Nelson, entendidos pelo Dimenti como mapas de ações físicas destinadas a nortear e estimular os intérpretes desses textos. Fora do seu contexto originário, tais ações corporais ganham outros significados no espetáculo, mediante a produção de livres associações de idéias e metáforas.

Rubricas

O diretor do espetáculo, Jorge Alencar, explica sobre as referências retiradas destas obras, denominadas por ele de rubricas. “São mapas de ações físicas, a exemplo de um puxão pelo braço, um empurrão, que traduzem a confissão para os movimentos da dança”. Segundo ele, outros links podem ser observados no espetáculo. Um deles é a relação entre a confissão rodrigueana com outros tipos contemporâneos de produção textual e imagética, como os blogs da internet e o site Youtube.
“Atualmente, as pessoas se confessam via internet ou diante das câmeras de TV, de maneira que tal situação configura uma espetacularização banalizada”, observa. Até mesmo o nome do espetáculo, que remete a certo vídeo que fez sucesso no referido site, confere um caráter nonsense, algo comum nos nomes dos espetáculos do grupo. “É uma maneira de provocar o público, para que ele se pergunte sobre o significado daquele nome”, finaliza Alencar.
Outra ligação é o desenho animado, de onde vem o humor nonsense e surreal contido no espetáculo. “Estão presentes na montagem alguns elementos como variações abruptas de estados corpóreos e foco narrativo, as descontinuidades narrativas e fragmentações das ações”, garante Jorge.

Sobre o Dimenti

O grupo iniciou suas atividades em 1998, a partir da montagem do seu primeiro espetáculo, O Alienista, baseado na obra homônima de Machado de Assis. Sua proposta consiste no desenvolvimento de uma linguagem baseada na pesquisa de formato, dos clichês estéticos e da corporeidade do cartoon. Numa possível síntese, o grupo utiliza o princípio que chama de Corpo Borrado ou dramaturgia borrada.
O verbo “borrar” se desfaz das idéias de identidade e fronteira enquanto referenciais fixos, mas é, sobretudo, uma forma de entender a criação como algo que se propõe a tornar imprecisas algumas insistentes dicotomias como originalidade e citação, estado de cena e estado de coxia, ordem e desordem, continuidade e descontinuidade, trágico e cômico, muito a partir de informações capturadas no desenho animado. No seu currículo, estão os espetáculos Pool Ball, Tombe (2002), A Novela do Murro (2001), Chá de Cogumelo (1999), dentre outros.

Ficha Técnica
Intérpretes-Criadores: Daniel Moura, Daniella de Aguiar, Fábio Osório Monteiro, Lia Lordelo, Márcio Nonato, Paula Lice e Vanessa Mello
Direção coreográfica: Jorge Alencar
Direção Musical: Tiago Rocha
Figurino: Jorge Alencar e equipe
Projeto de luz: Márcio Nonato