A Secretaria Estadual da Educação vai desenvolver esforços para incluir, no currículo da rede estadual, a partir do próximo ano, a história recente da Bahia. A decisão parte do pressuposto de que as novas gerações não podem desconhecer os principais fatos e personagens que construíram esta história, seja como protagonistas ou coadjuvantes. Com este objetivo, a SEC realizou hoje (20), no Instituto Anísio Teixeira (IAT), a videoconferência “Direito à memória e direito à verdade: tortura e anistia no cenário nacional e na perspectiva dos baianos”.
Contando com a participação de especialistas na temática e personagens vivos desta história, o evento promoveu uma reflexão da história do autoritarismo no país e na Bahia, especialmente, no período da ditadura militar. Na opinião do secretário Adeum Sauer, a escola não pode se eximir da responsabilidade de transmitir fatos relevantes na história da Bahia aos baianos.
“Temos que possibilitar as novas gerações o conhecimento de fatos sociais, muitas vezes omitidos da história oficial. A ditadura militar, por exemplo, foi um período que deixou rastros fortes e, enquanto tivermos estes personagens entre nós, temos que trazer estes testemunhos vivos da história”, defendeu Sauer.
Uma pesquisa realizada pela diretora de ensino e suas modalidades da SEC, Tânia Miranda, apontou que a história baiana mais recente não é ministrada pelos professores em sala de aula, sob a alegação de que não há tempo suficiente para explorar fatos da história recente e contemporânea.
É justamente como uma forma de mudar esta realidade que a secretaria vai colocá-la como item do currículo escolar. “É preciso fazer cortes e recortes da história. Infelizmente, os historiadores costumam trabalhar seguindo a ordem cronológica dos fatos, deixando, assim, fatos relevantes da nossa história de lado. É preciso romper com esta tradição”, enfatiza Miranda.
O professor Emiliano José, que ministrou palestra sobre “A repressão política na Bahia nos anos da ditadura militar”, destacou o impacto que a ditadura teve no Brasil e, principalmente, para a vida dos brasileiros. “A ditadura sufocou a liberdade, instituiu a tortura como método para tratar os adversários”, ressaltou Emiliano, que também lamentou o fato de o ensino da história do Brasil nunca focar questões da atualidade. A realização da videoconferência está dentro de uma proposta mais ampla do governo federal e, em particular, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, visando manter viva a história e memória recente do país.
Excluída dos livros didáticos, geralmente produzidos no sul do país, depois de 43 anos, o resgate da verdadeira memória das lutas de resistência à ditadura militar começa a se transformar em história viva nas escolas públicas e nos livros. “A lei da anistia trouxe o acesso a documentos históricos mantidos por tempo em segredo. Agora, não podemos permitir que essa história continue sendo ocultada”, afirmou o secretário Adeum Sauer.