Mais quatro unidades de saúde devem ser habilitadas para a realização de transplantes no estado – Hospital Santa Izabel, Instituto do Coração da Bahia (Incoba), Hospital Santo Antônio, e Hospital Ana Nery.

A novidade é resultado da iniciativa do Governo do Estado, através da Secretaria da Saúde (Sesab), para suprir a demanda local. O assunto foi discutido hoje (7) pela manhã no encontro Situação e Perspectivas do Transplante de Órgãos e Tecidos no Brasil e na Bahia, realizado no auditório do Centro de Atenção à Saúde Professor José Maria de Magalhães Netto (CAS).

A partir deste ano, o Hospital das Clínicas (Hospital Universitário Professor Edgard Santos-Hupes) da Universidade Federal da Bahia (Ufba) passará a fazer os de fígado e medula. Além disso, vai aumentar o volume de transplantes de córnea e retomar a realização do renal. Mais duas instituições já estão em fase de avaliação para a realização do cardíaco – o Santa Izabel e o Incoba, enquanto outras duas estão sendo credenciadas para o renal: os hospitais Santo Antônio e Ana Nery.

O secretário da Saúde, Jorge Solla, destacou que as iniciativas do Estado envolvem também campanhas de conscientização da população, ampliação das equipes de transplante, interiorização dos procedimentos, com o credenciamento de instituições de outros municípios e introdução de módulos de transplante nas faculdades de medicina e enfermagem.

“Estamos em fase de avaliação para credenciamento das instituições aptas a fazerem o procedimento”, informou o coordenador do Sistema Estadual de Transplantes da Sesab, Eraldo Moura, referindo-se à análise da estrutura do local, dos equipamentos e a capacitação dos profissionais.

A Bahia realiza hoje transplantes de fígado, rim, medula óssea e córnea. Os de fígado no estado são feitos nos hospitais Português e Espanhol, enquanto os de rim acontecem no Português, Espanhol, São Rafael e na Santa Casa de Itabuna – única instituição do interior a realizar o procedimento.

Os transplantes de medula são realizados apenas no Hospital Português, entretanto, o Hospital das Clínicas e o São Rafael já estão em fase de avaliação para passar a também operar o procedimento. Já para os transplantes de córnea, 17 centros são habilitados no estado, entre os quais o Hospital das Clínicas.

Do total dos 202 transplantes realizados em 2006 no estado, 100 foram de córnea, 55 de rim, 33 de medula e 14 de fígado. Em 2005 o número foi maior: 219 transplantes. Este ano, já foram três: um de córnea, um de rim e um de fígado. 

Quadro dramático

A Bahia precisaria realizar um número de transplantes quase oito vezes maior que o contabilizado atualmente. Em 2006, apenas 202 transplantes foram realizados no estado, frente a uma fila anual de cerca de 1,5 mil pacientes à espera de um órgão. Moura avaliou o quadro da Bahia como “dramático”. “O que fazemos em um ano era para ser feito em um mês. O estado ocupa uma das piores posições no ranking de transplantes não só em relação ao país, como também na Região Nordeste”, disse Eraldo Moura.

Ele lembrou que a lista de espera por transplantes na Bahia hoje é de 3,3 mil pacientes. “Essa lista teria que cair de dois anos, para pelo menos seis meses”, observou. No Brasil, existem cerca de 64 mil pessoas aguardando por um transplante e são realizados, em média, 13 mil por ano.

“Só conseguiremos criar uma cultura de doação através da educação, mostrando os benefícios que o transplante traz à sociedade”, afirmou Moura. Para ele, a recusa em doar órgãos muitas vezes é fruto da falta de conhecimento e esclarecimento da população a respeito do assunto – problema que atinge até mesmo os profissionais de saúde. “As pessoas têm que ter em mente que os doadores vão beneficiar indivíduos que têm doenças irreversíveis, cujo único tratamento é o transplante”, salientou.

O coordenador do Sistema Nacional de Transplantes do Ministério da Saúde, Roberto Schlidwein, afirmou que “a Bahia tem um grande potencial, que merece ser aproveitado”. “O principal entrave é a falta de alguém treinado, capacitado, que possa solicitar a doação de uma maneira adequada, dentro do ambiente hospitalar. Se houver uma entrevista adequada, uma explicação de como se dá processo e, principalmente, uma confiança no Sistema Único de Saúde, nós teremos índices de doação bem melhores”, ressaltou.

O encontro, que reuniu autoridades, diretores de hospitais públicos e privados, representantes de entidades de saúde e dezenas de profissionais da área, foi uma das ações que vêm sendo realizadas pela Secretaria Estadual da Saúde (Sesab) para tentar aumentar os índices de doação na Bahia, aliviando o sofrimento de milhares de pessoas.