O soldado Oscar Lopes de Oliveira, 24 anos, demonstrava entusiasmo ao iniciar hoje (4) o Curso de Relações Raciais, na Vila da Polícia Militar (Avenida Dendezeiros). Realizada pelo Núcleo de Religiões de Matriz Africana da PM (Nafro), através do Projeto Garra, Cidadania e Raça, a iniciativa visa promover reflexões a respeito da abordagem policial em relação aos negros e de formas de coibir a violência racial. Policial militar há quatro anos, Oliveira atua no bairro de Nordeste de Amaralina, onde lida com um grande contingente de negros. “Nesse sentido, esperamos que o curso nos ajude a quebrar paradigmas e a diminuir o peso da discriminação sofrida pelos negros”.

A aula inaugural teve direito a uma palestra proferida pelo professor Juvenal de Carvalho Conceição, mestre em História pela Universidade Federal da Bahia (Ufba). Com a participação de 50 policiais militares (17 sargentos e 33 soldados) de diversas unidades da PM, o curso acontecerá sempre de segunda a sexta-feira, com duração de 30 dias (80 horas/aula).

Os temas estão divididos em quatro módulos – História do Negro na Bahia (7 a 11 de maio), Culturas Afro-Brasileiras (14 a 18), Violências Policial, Racial e de Gênero (21 a 25) e Cidadania e Segurança (28 de maio a 1º de junho). Durante as aulas, que serão ministradas pelas professoras Tânia Santana, Meire Reis, Vanda Machado e Rosilene Evangelista, os alunos ficam afastados de suas atividades normais.   

Também aluno do curso, o sargento Petrônio Pedroza espera adquirir maiores conhecimentos sobre o tema para transmitir aos colegas. “Afinal, também devemos atuar como multiplicadores”. Ele salientou ainda que o preconceito contra os negros vem da própria sociedade e não da abordagem policial. “Como a maior parte da população baiana é negra, nós lidamos a maior parte do tempo com esse público, mas nosso tratamento não é diferenciado em relação a eles, pois não cultivamos o preconceito”, afirmou Pedroza, que atua como policial há 23 anos na Região Metropolitana de Salvador.   

Na programação das aulas, também haverá visitas a locais como o Museu Afro-Brasileiro e a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. A participação dos policiais irá constar no currículo de cada um, com direito a um certificado de conclusão.

O Subcomandante Geral da Polícia Militar na Bahia, coronel Jairo José da Cunha, também presente na aula inaugural na Vila Militar, espera que o curso possibilite uma melhor qualidade na prestação do serviço dos policiais à comunidade. “Nosso objetivo é exatamente aproximá-los daquelas comunidades que são diferenciadas não pela PM, mas pela própria sociedade. Como existem todas as raças e todos os credos na Polícia Militar, a gente espera que esse curso desperte nos militares uma visão de igualdade e tolerância”, comentou o subcomandante.

O Projeto Garra, Cidadania e Raça, já desenvolvido em anos anteriores (a violência contra a mulher foi o enfoque do curso oferecido no ano passado), tem a meta de coibir a violência policial em suas atividades rotineiras, sobretudo em festas populares e no Carnaval de Salvador.