A Bolland do Brasil, empresa que vai trabalhar na retirada dos resíduos de metais pesados deixados pela antiga Companhia Brasileira de Chumbo (Cobrac), em Santo Amaro, vai recuperar da escória três metais: zinco, ferro e chumbo. O supervisor de Mineração da empresa, Alberto Azevedo, explicou que o projeto será realizado a partir de um método de circuito fechado, o que afastará a possibilidade de nova contaminação. “A emissão de gases é muito pequena e contaremos com filtros para a captação de partículas sólidas. O local onde será feito o tratamento será todo coberto com resinas sólidas, para evitar infiltrações”, destacou. O projeto está sendo orçado em R$ 20 milhões e deverá gerar 90 empregos diretos.

As explicações foram dadas á população durante um seminário realizado hoje (28), em Santo Amaro, para comunicar à população como será feito o reprocessamento da escória de chumbo que faz da cidade uma das mais poluídas do mundo por metais pesados. A expectativa é que, a partir do início das operações, em 50 meses sejam retiradas 150 mil toneladas da escória, principal passivo ambiental da cidade.

De acordo com o superintendente da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação, Paulo César Bastos, há cerca de 50 anos a cidade vem sendo vítima de uma verdadeira tragédia ambiental. Uma das primeiras ações do Governo da Bahia foi a identificação de uma fábrica com a metodologia apropriada para a purificação, que inicialmente será feita na área da antiga fábrica”. Bastos destaca que a Bolland já conta com a licença ambiental do Centro de Recursos Ambientais (CRA) e deverá iniciar suas operações a partir de 2008. “Enquanto isso, estamos verificando estudos da Ufba para a purificação das áreas contaminadas de rua, já que boa parte da escória foi utilizada na pavimentação do município”, completa.

O prefeito de Santo Amaro, João Melo, acredita que a chegada da Fábrica será uma linha divisória na história da cidade, já que este processo já era muito aguardado pela população. Para Adailson Pereira Moura, presidente da Associação das Vítimas da Contaminação de Chumbo, Cádmio, Mercúrio e outros elementos químicos (Avicca), uma ONG ambiental criada em 2003 para liderar a luta das famílias contaminas pela Cobrac, a chegada da Bolland é positiva.

Adailson trabalhou durante sete meses na antiga fábrica e por conta disso contraiu altos índices de metais pesados no organismo, o que lhe causou diversas doenças. Hoje ele lidera a luta pela indenização de 200 ex-trabalhadores para que consigam uma indenização do INSS por conta da contaminação, que não é reconhecida como doença ocupacional. No final do mês de julho, uma parceria entre várias secretarias vai sensibilizar a população sobre a instalação da Bolland do Brasil.

Histórico do desastre

Durante 33 anos de operação (1960-1993) em Santo Amaro, a Companhia Brasileira de Chumbo (Cobrac), subsidiária da empresa francesa Penarroya Oxide S.A., uma das líderes mundiais na produção de óxidos de chumbo, produziu e comercializou cerca de 900 mil toneladas de liga de chumbo. Em pouco mais de três décadas, gerou um passivo ambiental de milhões de toneladas de rejeito e cerca de 300 mil toneladas de escória com alta concentração de chumbo.

Em 1993, ano em que a empresa encerrou as suas atividades, a escória ficou disposta a céu aberto, resultando na contaminação do solo e das águas. Os danos causados ao meio ambiente tiveram como conseqüência a contaminação da população santamarense, principalmente os ex-trabalhadores e moradores do entorno da fábrica.

Uma das conseqüências foi o aparecimento do saturnismo, uma doença que afina os braços, paralisa as mãos, provoca dores agudas, causa impotência sexual nos homens e aborto e má formação fetal nas mulheres. Por causa do excesso de metais na água e no solo, outras doenças como anemia, câncer de pulmão, lesões renais, hipertensão arterial, doenças cérebro-vasculares e alterações psicomotoras também foram identificadas.