Domingo, o Carnaval do Centro Histórico ganha um ingrediente a mais, atraindo até mesmo a galera jovem que prefere o Carnaval dos trios elétricos. No começo da tarde, já dá pra ver a movimentação sob as rodas das baianas, que com suas saias de cata-ventos decoram o Largo do Pelourinho. As toalhas que viram turbantes conferem um ar de realeza aos meninos de Gandhy, sejam eles estivadores, comerciantes ou, até mesmo, paulistanos.

E lá vai ele, soberbo, com seus quase seis mil homens curtindo a admiração e o assédio dos que se encantam com o azul e branco, com o cheiro de alfazema e com o charme dos seus integrantes. Antes de ganhar a avenida, descendo pela Praça da Sé até alcançar a Rua Chile, lá pelas 15 horas, se inicia o Padê. “”Trata-se de um ritual de oferenda para Exu, em nome da harmonia e da alegria durante o desfile do bloco””, explica Jair Gomes da Silva, diretor social do Gandhy.

Na terça-feira, dia em que o Gandhy desfila novamente no Circuito Oficial, o ritual se repete no mesmo horário, no Largo do Pelourinho. “”Venho sempre assistir porque tem uma energia diferente”” diz o estilista Silverino Ju.

Não há como negar: o Gandhy mexe com a fantasia dos foliões, quer sejam admiradores ou, simplesmente, foliãs em busca de azaração. Trocar colares por beijos é de lei. “”Se eu não beijar um Gandhy, não valeu meu Carnaval. Escolho o mais interessante e me jogo””, afirma a estudante Ana Márcia.

Casado, o promotor de vendas Luis Caetano, há 26 anos desfilando no Gandhy, diz que prefere trocar colares por simpatia, mas reconhece que o assédio é grande. Para ele, o que conta é que, a cada ano, é uma emoção diferente. “”É como se eu estivesse desfilando pela primeira vez. Ser Gandhy é atitude””, revela, enquanto arruma o turbante.

Nos braços do pai, Cauã de dois anos, dorme tranqüilo sem perceber que aos poucos ganha ares de Gandhy mirim com o turbante que vai sendo costurado na sua cabeça. O pai, comerciante no Pelourinho, sai no Cortejo Afro, mas faz questão de trajar o pequeno de Filho de Gandhy. “”Ele adora a festa e não pode ver uma percussão, que fica doido””, diz  Manoel Pereira.

Confetes e serpentinas

E o que não falta é criança. Atrás das bandinhas, em trenzinhos animados, fazendo guerras de espumas, confetes e serpentinas, lá estão eles, sorrisos largos e energia contagiante. “”Adoro o Carnaval do Pelourinho porque aqui a gente pode brincar, sem confusão e com segurança, diz Alda D’ávila, de 13 anos. “”Gosto dos bonecos e da capoeira””, emenda o irmão Felipe de 10 anos.

No saxofone, o estudante Wagner Dantas anima as crianças que acompanham o grupo Eu quero é Prova. A bandinha, é formada por jovens estudantes do Colégio Estadual Azevedo Fernandes, que fica no Largo do Pelourinho. “”Esta é uma grande oportunidade que oferecemos para os meninos desenvolverem seus talentos e descobrir novos caminhos, através da arte-educação””, diz o professor de música, Grimaldo Manoel Bonfim, que rege a fanfarra da escola.

Vestido de Batmam, o vendedor ambulante Joilson Monteiro diz que nem precisa apregoar seus balões. “”Me vestir assim faz toda a diferença. Vendo bem mais, pois as crianças vem atraídas pela meu personagem””, diz o ambulante que não perde oportunidade para fazer pose de super-herói.

Mas quem pensa que o Centro Histórico é apenas das crianças e dos mais velhos, engana-se. No Largo do São Francisco, o americano Michael Robson acompanhava atento os passos de Nicinha de Santo Amaro, no palco armado no local. “”Nunca vi nada igual. É uma festa muito original, de rua onde todo mundo participa com tranqüilidade””, afirmou.

Até a terça-feira, ainda tem muita festa aqui no Centro Histórico. Nas ruas, nas praças, nos largos ninguém consegue ficar parado. Na segunda-feira, Neto Bala faz o samba de partido alto, as 19h, no Largo Quincas Berro D’Água, À 0h, a Orquestra do Maestro Zeca Freitas anima os foliões na Praça Tereza Batista. Para as crianças, além das atrações infantis que circulam pelas ruas, a Banda Gato Multicores anima o baile infantil no Largo Pedro Archanjo.