Conhecida como “ouro verde do século 21”, por conta da demanda mundial por álcool (etanol), a cana-de-açúcar está sendo vista pelo mundo como uma alternativa para a produção de um combustível menos poluente. Em crescimento vertiginoso no estado de São Paulo – maior produtor brasileiro -, a cultura avança por todo o país e, na Bahia, começa a se expandir no oeste e a substituir a pecuária no sudeste e extremo sul do estado.

Antecipando-se aos acontecimentos, a Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), em parceria com o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e a Fundação Bahia, iniciaram, na Bahia, desde outubro de 2006, uma pesquisa visando  identificar genótipos superiores de cana, A Estação Experimental de Mocambo, da EBDA, na ilha de Itaparica, foi selecionada para a implantação de uma unidade experimental numa área com 261 variedades, usando clones de cana-de-açúcar oriundos do IAC e de outras instituições de pesquisa.

Para o presidente da EBDA, Emerson Leal, o momento é de reflexão. “Temos que estar alertas para que a expansão de uma monocultura não venha a retroceder o esforço desenvolvido para apoiar a pequena produção e os produtores familiares, que têm na diversificação  uma forma de manutenção de suas famílias”, advertiu.

Segundo o coordenador do Programa de Melhoramento Genético do IAC,  Marcos Landel, que visitou a Estação Mocambo na semana passada, a pesquisa visa identificar as principais características de cana para usos industriais, através de cruzamento via polinização controlada. “Pretendemos com este banco de germoplasma identificar e gerar materiais superiores, de importância econômica, visando atender aos produtores de cana, açúcar e álcool, não só da Bahia como também de outras regiões do país”, comentou.

Na definição da área, foram observadas as condições edafoclimáticas da região, para atender às exigências da cultura. “Além da proximidade do equador, o que favorece um florescimento mais intenso e escalonado, Itaparica tem latitude e luminosidade ideais e temperatura e umidade do ar próprios para a cultura”, disse o pesquisador do IAC Jeremias Mendonça, um dos responsáveis pelo experimento. Segundo ele, atualmente, as variedades plantadas encontram-se em fase de floração, e está próximo o processo de cruzamento e reprodução.

Seleção de materiais

O processo de seleção de novas variedades consiste na retirada das flechas da cana que são colocadas em uma solução ácida para manutenção das plantas vivas. Com isso, os cruzamentos podem ser feitos a céu aberto (em outras localidades são realizados em estufas), o que reduz os custos de produção. Outra vantagem é a utilização de água de chuva para substituir a água destilada necessária à solução.

No campo, as plantas passam por uma seleção onde são observadas  características como produtividade, produção de sacarose (açúcares) e resistência a pragas e doenças. “Esse tipo de avaliação leva em consideração o custo por hectare, visando a maior rentabilidade por área”, explicou Marcos Landel. O pesquisador da EBDA, Manoel Soares, também responsável pelo experimento, assegurou que uma variedade só é considerada produtiva quando alcança índices superiores a 80 toneladas por hectare.

Na Bahia, a média obtida com as cultivares tradicionais está em torno de 30 toneladas/hectare para a produção de cachaça, melado, açúcar mascavo e outros. “Precisamos mudar este quadro, partindo para a introdução de cultivares mais produtivas e para a educação dos produtores sobre a importância de se investir em tecnologias apropriadas”, enfatizou Soares.

A cana industrial, além de servir para produção de açúcar, álcool e derivados, como plásticos biodegradáveis, pode servir ainda, na Bahia, para a produção de açúcar mascavo, rapadura, melado e cachaça, entre outros. Dentre as variedades mais utilizadas pelo IAC, inclusive na Estação Mocambo, destacam-se a IAC 86-2210, IAC 87-3396, IAC 91-5155, IAC SP 94-2101, IAC SP 93-3046, IAC SP 93-6006, IAC SP 94-2094 e IAC SP 94-4004, mais produtivas e rentáveis. A média de tempo para produção de uma variedade, segundo os pesquisadores, é de 12 a 15 anos.

Quanto às perspectivas para o futuro, Marcos Landel informou que o programa está estruturado para a ampliação da área da unidade experimental, com a implantação de mais um campo, com 200 novos genótipos, pretendo alcançar, num futuro próximo, a introdução de 800 genótipos para estudos na Estação Mocambo.