O resgate das tradições e do artesanato, o apoio a projetos de pesquisa e mais espaço para divulgação dos rituais indígenas. Estes foram alguns dos pontos levantados por índios de 18 tribos do estado, que participam até amanhã (17) do I Seminário Política Cultural para os Povos Indígenas, na Sala de Conselhos da Reitoria da Universidade Federal da Bahia (Ufba).

“A cultura da Bahia envolve uma diversidade muito grande de atores e é preciso ter um olhar atento sobre todos eles”, afirmou Marcio Meirelles, lembrando que é importante ouvir as propostas dos índios para que as soluções seja alcançadas rapidamente. “Estamos falando de 507 anos de atraso. Os povos indígenas precisam ser tratados como iguais”. O secretário destacou que também espera a indicação de um nome entre as lideranças indígenas para compor o Conselho Estadual de Cultura. Segundo ele, as propostas apresentadas no seminário vão fazer parte do programa mais amplo de escuta de todos os setores e que vai culminar com II Conferência Estadual de Cultura, programada para julho.

Também participaram da abertura do encontro, o pró-reitor de Extensão da Ufba, Ordep Serra, o superintendente da Secretaria da Justiça, Frederico Fernandes, e o coordenador executivo da Coordenadoria de Políticas para os Povos Indígenas da Secretaria da Justiça, Jerry Matalawê, da tribo Pataxó, de Coroa Vermelha.

Demandas – Para a índia Nádia Acauã, da tribo Tupinambá de Olivença – que reúne aproximadamente 6 mil índios -, as tribos também precisam estar organizadas para dialogar com o governo. “A expectativa é sejam criadas políticas afirmativas. Precisamos de políticas culturais que incluam o acompanhamento das ações, já que muitas iniciativas são iniciadas, mas não terminam por falta de acompanhamento”, disse. Ela destacou a necessidade de resgate da língua tupi, lembrando que a tribo já conseguiu produzir parte do material didático necessário, mas precisa de apoio na editoração do conteúdo.

“Precisamos mostrar que nossa cultura está viva”, afirmou Alapity Paulo Titia, da tribo Pataxó Hã Hã Hãe, lembrando que uma das dificuldades é a distância entre as cinco etnias que integram a tribo, formada por 3.280 índios espalhados entre as localidades de Pau Brasil, Itaju e Jacaraci. Ele lembra que é importante recuperar o território perdido, explicando que a tribo é dona de mais de 54 mil hectares de terra, mas ocupa apenas 16 mil. “Estamos lutando para ter de volta o restante das terras”. 

Vale destacar que a história da tribo Pataxó Hã Hã Hãe está retratada no livro Índios na Visão dos Índios, produzido próprios índios, com apoio da organização não-governamnetal Thydewas. A publicação, elaborada a partir de oficinas, será lançada dia 19, às 17 horas, na Bienal do Livro da Bahia.

O seminário vai colher ainda subsídios para a articulação de políticas governamentais com programas acadêmicos realizados por universidades públicas, a exemplo do Programa Universidade Indígena e Quilombola, da Universidade Federal da Bahia (Ufba). Ordep Serra explicou que a idéia é criar melhores condições de participação dos índios na vida universitária, disse.

Segundo ele, a Ufba também irá promover, em maio, um encontro em Porto Seguro para discutir a formação indígena em saúde. O programa inclui ainda seminários sobre os territórios indígenas e educação. Outra iniciativa que será desenvolvida é uma pesquisa-diagnóstico para verificar as condições de vida dos índios Pataxós, explica o pró-reitor.