A Festa da Irmandade da Boa Morte, a mais tradicional do Recôncavo baiano, realizada em Cachoeira há 235 anos, terá o apoio das Secretarias de Cultura (Secult) e Turismo (Setur). Representantes da Irmandade reuniram-se com os secretários de Cultura, Márcio Meirelles, e de Turismo, Domingos Leonelli, quando foram apresentadas sugestões e discutidos detalhes para que os festejos, que ocorrem de 13 a 17 de agosto, possam inaugurar um novo tempo na história dessa tradição.

A festa da Boa Morte deverá estar, também, inserida na proposta do turismo étnico que visa, entre outros objetivos, proporcionar aos estrangeiros, principalmente norte-americanos da raça negra, melhores condições de estada na Bahia, aproximando-os de sítios e manifestações culturais vinculados às suas origens.

Baseada em rituais da Igreja Católica, a festa da Boa Morte, a “Semana Santa de Nossa Senhora”, realiza-se em agradecimento pela liberdade dos negros com a abolição da escravatura e tem sua apoteose com a assunção de Nossa Senhora. Durante os dias 13, 14 e 15, até o meio-dia, celebra-se a parte religiosa; e nos dias 16 e 17 acontece o lado profano da festa.

Conceição Maria Sales, administradora da festa, explica que atualmente 21 mulheres negras, com média de 70 anos – uma participante vai completar 100 anos – integram a Irmandade, e vê com entusiasmo as propostas da Setur e da Secult para dar um maior brilho e dimensão a essa tradição. “A iniciativa é importante, não apenas pelo aspecto da festa em si, mas também do turismo étnico, que ampliará o conhecimento sobre nossa festa, inclusive fora do Brasil”, acentuou, revelando que as pessoas de várias origens costumam chegar não apenas em agosto, mas durante todo o ano em Cachoeira, interessadas na tradição da Irmandade.

O artista plástico Enéas Guerra acha que o apoio das áreas de turismo e cultura “vai permitir um trabalho mais amplo e rico do ponto de vista cultural, além de expandir a tradição”. Ele é um dos responsáveis pela criação do memorial da Irmandade da Boa Morte, que ainda está em fase de planejamento, e vê o potencial turístico da região como bastante significativo, lembrando que a Irmandade em questão já é conhecida internacionalmente e toda ajuda só acrescentará em termos de reconhecimento.

Ressaltando a importância do turismo étnico, o secretário de Turismo revelou que a festa da Irmandade da Boa Morte foi a inspiradora desse gênero, diante da expressiva presença – estima-se em três mil visitantes – de estrangeiros em Cachoeira, interessados na secular tradição.

O secretário de Cultura lembrou do interesse do povo venezuelano por esse tipo de tradição e sugeriu a possibilidade de haver um vôo charter para a festa, assim como uma mostra virtual sobre o evento. A instalação de oficinas para a produção de artesanato durante todo o ano, produções culturais, promoção de shows em torno das festividades fazem parte do planejamento estratégico, dando uma maior dimensão aos festejos da Irmandade da Boa Morte.