Diante da expectativa de democratização do acesso à universidade pública e da melhoria na formação acadêmica e profissional oferecida, a Universidade do Estado da Bahia (Uneb), em parceria com o Instituto Anísio Teixeira (IAT), promoveu ontem (3) o seminário A Arquitetura Universitária Brasileira em Debate: a Proposta da Universidade Nova.

O evento constou de duas mesas-redondas, seguidas de debates, realizadas nos estúdios do IAT, de onde foram transmitidas ao vivo, por vídeoconferências, para 31 municípios baianos que integram a Rede Educação. Para as professoras Delcele  Queiroz e Ronalda Silva,  da Uneb, que coordenaram o seminário,  a participação à distância é uma solução para a universidade multicampi. “Foi uma forma de discutir, num debate mais ampliado e aprofundado, uma possibilidade que será utilizada em outras ocasiões”, ressaltou Ronalda.

O evento, de iniciativa do Programa de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade (PPGEduC) da Uneb, discutiu na abertura o tema Universidade Nova e Ações Afirmativas, com a participação do reitor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Naomar Almeida, do professor-adjunto da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) Valter Silvério e do presidente da Associação Brasileira de Tecnologia Educacional (Abte), Walter Garcia.

Os debatedores concordaram, em suas exposições, que o modelo de universidade vigente no Brasil necessita de reformulações. O projeto Universidade Nova, que está sendo discutido, propõe uma revolução nas estruturas acadêmica e política das universidades públicas brasileiras. O reitor Naomar apresentou um resumo do projeto, fazendo um histórico dos principais momentos da universidade desde que surgiu no Século XI, na Idade Média.

“No Brasil, o  grande educador baiano Anísio Teixeira convidou os maiores intelectuais brasileiros da época e pediu-lhes para pensar uma universidade de vanguarda no mundo que guardasse a alma brasileira”, contou o reitor. Em alguns aspectos, como o de tornar a universidade uma máquina de inclusão social pela educação superior, o projeto Universidade Nova busca inspiração em Anísio Teixeira, que considerava a escola pública como “a máquina que prepara as democracias”.

Reconfiguração

A proposta é muito interessante, mas segundo o professor Valter Silvério, deve, primeiro, passar por uma ampla discussão pública  “que requer que os setores organizados da sociedade preocupados com a importância da educação em geral, se posicionem”. Na opinião de Silvério, a proposta tem o mérito de trazer à tona a discussão do papel social da universidade. “Eu sou um intelectual, um ativista do movimento negro, preocupado com a reconfiguração do estado nacional brasileiro e não posso esquecer que o negro sempre apostou que a educação seria a sua via de mobilidade social”, afirmou.

A vice-reitora da Uneb Amélia Maraux, que assistiu atentamente ao debate, disse que foi importante a apresentação do projeto pelo reitor Naomar Almeida. As ponderações feitas pelos debatedores Valter Silvério e Walter Garcia, segundo ela, trouxeram questionamentos importantes para  compreender a situação em que se encontra o ensino superior no país. “Tem a questão do financiamento das universidades públicas, o acesso às universidades, a ampliação de vagas, a articulação dos projetos curriculares e pedagógicos e um dado importante foi colocado pelo professor Silvério que diz respeito à articulação com os movimentos sociais”, destacou Amélia.

O pró-reitor de Pesquisa e Ensino de Pós-Graduação da Uneb, Wilson Mattos, considerou as discussões extremamente importantes neste momento em que as universidades federais e estaduais, particularmente a Uneb, estão precisando repensar sua estrutura, sua forma de funcionamento e a sua função social. “Debates desta natureza nos instigam a repensar nossas atuações, a forma de implementar nossos projetos e acho que estes momentos devem se reproduzir para nos apropriarmos desse manancial de conhecimentos e implementar as mudanças na nossa própria universidade”, falou.