O lançamento da Campanha Nacional de Acessibilidade no Estado, que aconteceu hoje (20), no auditório da Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, foi marcado pela exibição do vídeo da campanha, exposição de cartuns temáticos do artista Ricardo Ferraz e palestra sobre acessibilidade digital proferida pelo presidente da ONG Acesso Brasil, Guilherme Lira. O ato lembra o Dia Nacional de Luta pelos Direitos da Pessoa com Deficiência, amanhã.
A secretária da Justiça, Marília Muricy, abriu o evento destacando o engajamento da SJCDH, “embora tardio”, na luta pelos direitos da pessoa com deficiência. Tardio porque apenas na atual gestão foi criado o Conselho Estadual para formular políticas e diretrizes voltadas para a defesa desse grupo social.
“Amanhã é o Dia Nacional de Luta pelos Direitos da Pessoa com Deficiência, e hoje estamos preparando da melhor forma, a atuação da secretaria por utilizar uma linguagem especial – a do cartun – que em nenhum momento se pretende hipocritamente neutra porque é assumidamente expressiva”, enfatizou Muricy.
“As ações nesse sentido são importantes porque existe um fenômeno histórico-cultural–social-econômico-político que jogou grande parte desse contingente (na Bahia cerca de 2 milhões de pessoas têm algum tipo de deficiência) na pobreza”, afirmou Regina Atalla, coordenadora de políticas públicas para pessoas com deficiência, da Superintendência de Apoio e Defesa aos Direitos Humanos secretaria. Ela lembrou que a “data comemorada no dia 21 de setembro significa a chegada da primavera e o desabrochar de um grupo marginalizado pela sociedade”.

Desinformação

Em sua palestra, Ricardo Ferraz, que contraiu poliomielite aos cinco anos, afirmou que encontrou na sua deficiência a sua cidadania. Preso a uma cama durante toda a infância, esqueceu da dor ao começar seus rabiscos em papel de embrulho das compras domésticas. A falta de mercado de trabalho para pessoas com deficiência, em Lajedão, na Bahia, sua cidade natal, o fez mudar-se para Cachoeira de Itapemirim, no Espírito Santo.
Ali, se mobilizou pela causa das pessoas com deficiência ao se deparar com casos de extremo desrespeito aos direitos humanos. Após tomar conhecimento de que jovens viviam amarrados à cama e que outros jamais haviam visto a luz do sol pela falta de informação de seus parentes e responsáveis, teve a idéia de abordar o tema com humor, por meio de cartuns baseados em relatos verídicos. Acredita que “um cartun vale milhares de palavras para aqueles a quem se negam as primeiras letras”.
“Não falo em preconceito, mas em desinformação em uma sociedade que não sabe viver com as diferenças”, reforça o cartunista, que divulga seus trabalhos em meios especializados e exposições de nível internacional. Ferraz, que acredita ter sido o primeiro a abordar a acessibilidade nas vinhetas de intervalo da Rede Globo, destaca que o importante é não mais falar de deficiência, mas sim de eficiência, cidadania e direitos humanos.
Guilherme Lira encerrou o evento apresentando números e soluções para acessibilidade e inclusão digital. Afirmou que no Brasil, segundo dados do IBGE de 2000, aproximadamente 24 milhões de pessoas possuem algum tipo de deficiência (2,8 milhões com deficiência mental, 1,4 milhão com deficiência física, 16,5 milhões com visual e 5,7 milhões com auditiva).
Lira ainda destacou que qualquer pessoa, independente das suas limitações físicas, pode utilizar o computador e acessar a Internet com os avanços da tecnologia assistiva. Programas de última geração e aparelhos que interpretam as mensagens enviadas pelo cérebro, sensíveis ao humor, permitem o acesso sem a utilização de mouse, teclado e monitor.
As comemorações pelo Dia Nacional de Luta pelos Direitos da Pessoa com Deficiência continuam amanhã, com a realização de palestras e atividades de sensibilização realizadas pela SEC, nas escolas estaduais Rafael Serravale e Vitor Soares. No dia 21, as atividades serão encerradas com um ato público na Praça Municipal, às 16h, promovido pela Associação Baiana de Deficientes (ABADEF), a Comissão Civil de Acessibilidade de Salvador e mais 28 entidades da área de luta pelos direitos das pessoas com deficiência.