Depois de mais de 50 anos de contaminação, finalmente, a cidade de Santo Amaro da Purificação vai se livrar de um dos maiores problemas ambientais do país. Com um investimento de R$ 20 milhões e a geração de 90 empregos diretos, a multinacional Bolland, empresa especializada na extração de resíduos industriais, está capacitada para reprocessar a escória de chumbo que polui o solo e afeta a população de Santo Amaro da Purificação, no recôncavo baiano.
Para descontaminar o solo, a empresa obteve licença do Centro de Recursos Ambientais (CRA) e empregará o método da lixiviação. As atividades de mineração da Companhia Brasileira de Chumbo (Cobrac), realizadas em Santo Amaro entre as décadas de 60 e 90, deixaram como herança um passivo ambiental estimado em 250 mil toneladas de escória (mistura de terra com metais pesados). Após todo este tempo, 150 mil toneladas dessa escória começarão a ser tratadas no próximo ano.
A escória será tratada pelo processo da hidrometalurgia, tecnologia limpa que já foi utilizada na Argentina, porém numa escala menor. Segundo a coordenadora de Meio Ambiente da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado da Bahia, Nolita Cortizo, “a escória vai ser misturada com uma solução de ácido clorídrico e água, para que os metais possam ser dissolvidos. O processo é um sistema fechado onde o material é recirculado até ficar saturado”.
Nolita explica que o refugo que não for aproveitado no processo será levado para uma unidade de tratamento de resíduos da Cetrel S.A, uma empresa de proteção ambiental localizada no Pólo Petroquímico de Camaçari.
Em contrapartida, a Bolland vai aproveitar da escória o óxido de ferro, muito utilizado na indústria de tintas, óxido de zinco, que possui aplicação em diversos setores industriais, além do chumbo metálico, com grande potencial para a indústria de baterias automotivas. A unidade em Santo Amaro está prevista para iniciar suas operações em 2008.
Com a credibilidade de mais de 80 anos no setor de metalurgia, a Bolland, que possui matriz na Argentina, fatura, anualmente, de US$ 120 milhões e está presente em países como Venezuela, Bolívia, Uruguai, Chile, Peru e EUA. Na Bahia, a Bolland está presente desde 1998 e atua principalmente na incineração de produtos químicos e na revenda das bombas produzidas na Argentina.

Histórico da Contaminação

Durante 33 anos de operação (1960-1993) em Santo Amaro, a Companhia Brasileira de Chumbo (Cobrac), subsidiária da empresa francesa Penarroya Oxide S.A., uma das líderes mundiais na produção de óxidos de chumbo, produziu e comercializou cerca de 900 mil toneladas de liga de chumbo. Em pouco mais de três décadas, gerou um passivo ambiental de milhões de toneladas de rejeito e cerca de 300 mil toneladas de escória com alta concentração de chumbo.
Em 1993, ano em que a empresa encerrou as suas atividades, a escória ficou disposta a céu aberto, resultando na contaminação do solo e das águas. Os danos causados ao meio ambiente tiveram como conseqüência a contaminação da população santamarense, principalmente os ex-trabalhadores e moradores do entorno da fábrica.
Eles passaram a desenvolver o saturnismo, uma doença que afina os braços, paralisa as mãos, provoca dores agudas, causa impotência sexual nos homens e aborto e má formação fetal nas mulheres. Por causa do excesso de metais na água e no solo, outras doenças também foram identificadas como anemia, câncer de pulmão, lesões renais, hipertensão arterial, doenças cérebro-vasculares e alterações psicomotoras.