A região do Lago do Sobradinho, que abrange os municípios de Remanso, Casa Nova, Sento Sé, Pilão Arcado e Sobradinho, é conhecida não só pela produção de energia hidrelétrica e atividade pesqueira, mas principalmente pela potencialidade da fruticultura irrigada, com a produção de uva, melancia, cebola, tomate, feijão coentro e pimentão.
O problema é que muitos agricultores não sabem o que fazer com as embalagens vazias de agrotóxicos, utilizadas em grande quantidade para defensivos agrícolas, acarretando inúmeros impactos ao meio ambiente, à saúde dos homens e dos animais.
O revendedor de produtos agrícolas de Casa Nova, Antonio Pereira de Souza, 67 anos, produziu cebola, tomate e melancia, durante quase duas décadas. Ele reconhece que o descarte inadequado das embalagens é um problema histórico na região. “Não tínhamos essa preocupação com o meio ambiente, nem sabíamos como devolver as embalagens”, explicou Souza.
De acordo com o comerciante, existiam diversas formas de “se livrar das vasilhas”, como abandoná-las na lavoura ou na estrada, enterrar, atear fogo ou jogar às margens do lago de Sobradinho. “Quando o rio enche, as embalagens ficam boiando na água”, conta.
Para mudar essa realidade, o Governo do Estado, através da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado (Semarh) vai promover, inicialmente, nos municípios de Casa Nova (dia 18, na Escola Agrotécnica) e Remanso (dia 20, na Biblioteca Pública), das 8h às 17h30, um treinamento, para os pequenos produtores da região, sobre procedimentos corretos a serem adotados quanto à destinação das embalagens vazias de agrotóxicos.
Na oportunidade, serão discutidas, por meio de palestras, mesas-redondas e sessão de vídeo, temas como ações do Governo do Estado para minimizar os impactos ambientais causados pelo uso de agrotóxicos, estratégias de prevenção de acidentes, doenças no trabalho rural e convivência com o semi-árido.
Segundo a coordenadora do Projeto de Desenvolvimento Integrado Sustentável do Entorno do Lago do Sobradinho (DIS), Clélia Maria Vasconcelos, a idéia é conscientizar cerca de 6 mil pequenos agricultores da região sobre os riscos ocupacionais existentes no meio rural, para prevenção de acidentes e doenças relacionadas ao manejo de herbicidas e às práticas de cultivo com biofertilizantes. “É comum na região reutilizar as embalagens de agrotóxicos para o transporte de água, consumida pela população ribeirinha”, informou Vasconcelos.
Além da Chesf, Inpev e prefeituras municipais da região, a Semarh conta com o apoio da Agencia Estadual de Defesa Agropecuária (Adab), da Fundação Jorge Duprat de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro), do Centro Regional de Saúde do Trabalho de Juazeiro (Cerest) e do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa).

Postos de recebimento

Após a capacitação, a Semarh pretende inaugurar, ainda este mês, os dois postos de recebimentos de embalagens vazias de agrotóxicos, nos municípios de Remanso e Casa Nova, que já estão prontos. Os municípios de Sento Sé e Sobradinho serão atendidos numa segunda etapa, prevista para novembro. A iniciativa integra o conjunto de ações do Governo do Estado para a revitalização da Bacia do Velho Chico, em parceria com a Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf).
Uma vez recolhidas aos postos, as embalagens serão destinadas à Central de Coleta de Petrolina (PE). De lá, elas são transportadas pelo Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias de Agrotóxicos (Inpev), entidade responsável por gerir o processo de destinação final dos recipientes vazios.
Hoje, o pequeno empresário de Casa Nova, Antonio Pereira de Souza, sabe a importância de devolver as embalagens. “A iniciativa vai ajudar a preservar a lagoa e a evitar doenças como o câncer”, reconhece. Souza foi nomeado presidente da Associação dos Revendedores de Produtos Agrícolas, que será responsável pelo posto de Casa Nova.
Os postos de recolhimento terão ainda a função de inspecionar e classificar, emitir recibo confirmando a entrega, além de encaminhar as embalagens às centrais de recebimento, responsáveis pelo reaproveitamento. A construção das estações atende à Resolução nº 334, do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama).