Mais que espaço de discussão em torno da construção coletiva de diretrizes para as políticas públicas pelas águas na Bahia, os Encontros pelas Águas, promovidos pela Superintendência de Recursos Hídricos (SRH), têm sido espaços de afirmação da identidade e cultura de povos e comunidades tradicionais.

Em Santa Maria da Vitória, região Oeste, na Bacia do Rio Corrente, tributário do Rio São Francisco, quilombolas de várias partes da Bahia puderam, no no sábado (27), dialogar e interagir sobre os problemas das águas nos lugares onde vivem.

No encontro, os descendentes de escravos também compartilharam perspectivas e reafirmaram o desejo de permanecerem em seus territórios em condições de plantar, colher e sobreviver de maneira sustentável.

Seu Jaime Cupertino, da comunidade quilombola de Seabra, falou da necessidade de se resgatar e trabalhar a auto-estima do povo quilombola, historicamente excluído. “Nós ainda não andamos como quilombolas, ainda precisa de muito trabalho e esforço para falar: ‘eu sou quilombola’. Não basta só ser negro e morar na comunidade rural, é preciso que sejam demarcadas suas terras, que sejam respeitados seus direitos, que o sistema reconheça que essas pessoas também são gente”, bradou.

Emocionado pelo encontro que oportunizou essa troca de experiência, seu Jaime Cupertino fez um clamor pelas águas. “A água não é quilombola, é universal. A água não tem cor e nem tem sobrenome. O sobrenome pode ser água suja ou água limpa e nós queremos o segundo sobrenome”. As palavras do sábio quilombola encantaram os participantes do encontro que o aplaudiram.

Dona Maria Madalena dos Santos, 57 anos, da Comunidade Quilombola Monte Vidinha, em Santa Maria da Vitória, foi uma delas. Ela disse que a comunidade, com cerca de 800 pessoas, ainda não é reconhecida como quilombola. No local onde há cerca de 15 anos o povo bebia água de cacimba, agora o abastecimento é feito via carro-pipa.

Por isso, Maria Madalena deu valor ao que viu, ouviu e falou no Encontro dos Quilombolas pelas Águas. “Para nós, esse momento foi muito importante. Primeiro pela valorização da nossa origem, da nossa etnia e tudo que a gente encontra na fala dos companheiros. Depois, porque é um espaço que dá mais força para a gente lutar pelos nossos direitos, inclusive pelas águas”. Dentre os representados no Encontro pelas Águas, estavam comunidades de locais como Boninal, Palmeira, Canápolis, Serra Dourada, Jaborandi, Lago Sobradinho, Morro do Chapéu, entre outras.

O evento também teve espaço para apresentações culturais e artísticas. O coral Poeira Vermelha abriu o encontro, o Grupo Sabino Reis fez uma apresentação de músicas de reis e artistas plásticos da região como Jairo Rodrigues, Chico Maleiro e João Souza expuseram trabalhos em cerâmica e madeira. O próximo Encontro pelas Águas que encerrará a série será em Irecê, no dia 10, com as crianças.