Conhecida por concentrar a segunda maior festa católica do Brasil, atraindo todos os anos milhares de fiéis, a cidade de Bom Jesus da Lapa, a 777 quilômetros de Salvador, foi escolhida para sediar o encontro territorial de cultura do Velho Chico. Participantes de 14 municípios do Vale do São Francisco discutiram, na segunda-feira (8) e ontem, as principais demandas para a cultura no território e, no final dos trabalhos, elegeram três prioridades – o fortalecimento das culturas populares, as bibliotecas e a formação cutural.
O encontro territorial do Velho Chico foi aberto pelo secretário de Cultura da Bahia, Márcio Meirelles, e o prefeito de Bom Jesus da Lapa, Roberto Maia. Segundo o secretário, a idéia é construir, em conjunto com os municípios, o Plano Estadual de Cultura, que vai indicar como o Estado deve pensar as ações e criar os programas. “É um pacto entre a sociedade e o governo”, disse.
O prefeito Roberto Maia destacou que a cultura, na visão tradicional, sempre estava ligada à capital e ao litoral. “É muito bom ver que hoje existe essa preocupação com a interiorização das ações culturais”, afirmou.
Márcio Meirelles lembrou que a Secult pretende, com esse trabalho, “dar visibilidade às identidades da cultura baiana que estavam invisíveis”, explicando que as propostas identificadas nos encontros territoriais serão levadas para a II Conferência Estadual de Cultura, no período de 25 a 28 deste mês, em Feira de Santana.
Antes do encontro territorial, mais de 1,3 mil pessoas dos municípios do Velho Chico haviam se reunido para identificar as demandas de cada cidade. Até agora, os encontros municipais e territoriais promovidos pela Secult, no interior do estado, reuniram mais de 28 mil pessoas.

De Igaporã para o Brasil

Um dos destaques no segundo dia do encontro do Velho Chico foi a exibição do curta Valei-me São Sebastião, é o Fim do Mundo!, dirigido e produzido pelo baiano de Igaporã, Marcondes Dantas. O vídeo de 15 minutos, selecionado na segunda edição do projeto Revelando os Brasis, do Ministério da Cultura, foi exibido na 34ª Jornada Internacional de Cinema da Bahia, no Rio de Janeiro – onde foi lançado –, no Canal Futura e outras mostras no Brasil.
Rodado em Igaporã, o filme tem seu elenco formado com moradores da própria cidade. “Mais de 300 pessoas que nunca tinha tido contato com cinema se inscreveram para o teste ”, conta Marcondes. O curta mostra a história do dia em que um avião passou pela primeira vez sobre Igaporã, deixando a população assustada. “As pessoas achavam que era o fim do mundo, coisa do capeta”, diz.
Depois da seleção, Marcondes Dantas passou 12 dias no Rio de Janeiro, onde foi capacitado pelo projeto, recebendo aulas de roteiro, direção, edição e produção. Agora, tem um novo roteiro pronto e sonha em rodar outro filme, também em Igaporã.
O encontro territorial contou ainda com as apresentações do músico Mourão de Privintina e da Associação Lapense de Capoeira Ginga Bahia, que celebraram a cultura do Vale do São Francisco na abertura do evento.

Cultura popular

Eleita como primeira entre as três prioridades, a cultura popular pode ser conferida no vídeo Mostra de Arte e Cultura Popular do Vale do Rio São Francisco, exibido no primeiro dia do encontro. O vídeo foi produzido pelo projeto cultural Canta Vale, que há 14 anos desenvolve ações em defesa da cultura popular. Por meio do projeto são realizados três eventos anuais – a Mostra de Arte e Cultura Popular, uma Feira de Artesanato e o Rock Rio São Francisco.
“Para quem milita há muito tempo e sabe o quanto ainda é difícil fazer eventos na área cultural essa iniciativa de debater a cultura em todo o estado pode ser vista como uma luz”, comentou o coordenador do Canta Vale, Carlos Humberto Lélis de Souza. Segundo ele, além do fortalecimento das culturas populares há uma grande necessidade de formação, tema que também apareceu entre as prioridades eleitas pelos participantes do encontro. “No interior são poucas as pessoas que sabem como fazer um projeto para buscar apoio”, afirmou.
Os participantes também assistiram à apresentação sobre os programas de fomento à cultura da Secretaria de Cultura da Bahia. Atento às explicações, o diretor da Escola Municipal Manoel Olímpio, Adail José, contou que estava em busca de informações para enriquecer a cultura de Igaporã, município onde mora. “É importante conhecer as formas para captar recursos e multiplicar isso. Precisamos fazer com que a população excluída tenha participação ativa na cultura”.