Vencedor do concurso internacional para o Bairro Amarelo, em Berlim, e autor de projetos em várias cidades brasileiras, o arquiteto Marcelo Ferraz faz palestra em Salvador, quarta-feira (10), propondo uma reflexão sobre o projeto para o Centro Histórico de Salvador. Ele foi parceiro da renomada arquiteta Lina Bo Bardi na concepção de um projeto para a área idealizado na década de 80, mas que não foi executado. O encontro, aberto ao público, acontece às 15h, no Espaço Conexão Ipac, no auditório da Praça das Artes, Pelourinho.
Marcelo Ferraz vem a Salvador, a convite do secretário de Cultura da Bahia, Márcio Meirelles, que está utilizando como referência para o novo projeto proposto pelo Governo da Bahia o conceito original da arquiteta Lina Bo Bardi. O arquiteto Marcelo Ferraz dirigiu o Instituto Lina Bo e Pietro Maria Bardi e também participou da equipe de Lina por 15 anos.
Junto com ela, foi responsável por algumas intervenções em Salvador, como o projeto da Casa do Benim, o de recuperação das encostas da Ladeira da Misericórdia e também o do Centro Histórico de Salvador. Sua concepção é de que "antes de ser bom para o mundo, o Pelourinho tem de ser bom para quem vive lá. Se ele for interessante para os moradores, vai ser para os outros também”. O projeto de Lina Bo Bardi para o Centro Histórico de Salvador foi concebido em 1987.
Segundo a revista Problemas Brasileiros (Sesc/SP julho-agosto 2007), “a recuperação do centro histórico começou durante a gestão de Mário Kertész à frente da prefeitura de Salvador, entre 1986 e 1989. No início de seu governo, o prefeito convidou Lina Bo Bardi a desenvolver o primeiro projeto para o Pelourinho, que em 1984 havia sido tombado pelo então Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan), atual Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Um ano depois, o sítio era incluído na lista de Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco)”.
O arquiteto Marcelo Ferraz explica que o projeto concebido por Lina Bo Bardi previa a inclusão dos moradores. "Bem ou mal, as pessoas que viviam no Pelourinho conservaram os monumentos. Aquela gente tinha de ser, com grande esforço, mantida”. Em sua opinião, “o único mérito da preservação do chamado Pelourinho é o de ter freado o processo de ruína progressiva. Daí para frente só vejo defeitos: falsas fachadas, o tingimento da cidade com aquelas cores que nunca existiram, os fundos de quadras imitando praças de Shopping Center, destruindo o urbanismo português – verdadeiro valor daquele conjunto-, tudo isso é grave. Será que vamos continuar fazendo isso para sempre?”

Revitalização

No último dia 3, o governador Jaques Wagner apresentou a proposta para revitalização do Centro Antigo de Salvador, com a assinatura de um acordo de cooperação entre os governos federal, estadual e municipal para viabilizar o projeto. O governador devolveu aos moradores dois dos 76 casarões incluídos na sétima etapa de revitalização do Monumenta, beneficiando 21 famílias.
Além disso, instituiu o Conselho Gestor do Centro Antigo, com a participação de cinco secretários estaduais, presidido pelo secretário de Cultura, Márcio Meirelles, que anunciou, na oportunidade, um conjunto de ações de curto prazo nas áreas social, de habitação, segurança pública, turismo e cultural, inclusive a nova programação do Pelourinho.
“Queremos que o novo Pelô seja economicamente viável e socialmente justo. Um lugar bom para se morar, para freqüentar, trabalhar e para se visitar”, afirma o secretário de Cultura, Márcio Meirelles, ressaltando a participação da sociedade nessa construção. Desde janeiro, foram realizados vários debates e uma ampla escuta junto aos moradores, comerciantes, associações e instituições públicas, privadas e do terceiro setor.
O diferencial do novo modelo de gestão que começa a ser implantado é a busca da sustentabilidade para o Centro Antigo de Salvador, calcada na parceria entre os governos federal, estadual e municipal, com a participação da iniciativa privada, das ONGs e partilhada com os moradores.