Hoje (23), a menos de uma hora da chegada da 16ª Transat 6.50 Charente-Maritime/Bahia 2007, a imagem principal no píer do Terminal Náutico da Bahia era de gente pra lá e pra cá, dando ajustes finais para a festa de recepção ao campeão, o francês Yves le Blevec.

Ao som de uma batucada que o esperava no píer, o campeão completou o percurso de La Rochelle, na França, até Salvador, passando pela Ilha da Madeira, possessão portuguesa, em 23 dias, três horas, 21 minutos e 33 segundos.
Depois de chegar no Farol da Barra, por volta das 14h30, Ives falou à imprensa internacional sobre a importância de fazer os ajustes certos nos barquinhos, chamados minis, por medirem cerca de 6,5 metros.

Le Blevec considerou uma surpresa sua vitória. “Desde o Equador eu estava sem baliza, que é o identificador do barco”, disse. Sem o equipamento, o navegador não tem como saber precisamente sua posição no percurso.

O campeão da Transat valorizou sua vitória ao afirmar que os minis são muito sensíveis e difíceis de manobrar. Embora tivesse chegado sem pressão dos concorrentes, destacou sua atuação com um “super!”, algo como “maravilhosa”, em português.

Até meados da tarde de ontem, Ronan Deschayes vinha em segundo lugar, e Fabien Despres, em terceiro, ambos na categoria protótipo. Herve Piverteau lidera a Serie, acompanhado por Gerard Marim-julia. David Krizek está na terceira colocação.

Dos 84 velejadores com chegada prevista a Salvador, cinco são mulheres. Apenas cinco que largaram de La Rochelle no dia 18 de setembro ficaram na escala realizada na Ilha da Madeira.

Nos próximos dias, os navegadores terão percorrido uma aventura de 4.200 milhas, ou cerca de 7.800 quilômetros em solitário, o equivalente a uma viagem de ida e volta a Montevidéu, no Uruguai, ao sul do continente.

A experiência de enfrentar o marzão em solitário só não é mais arriscada porque sete barcos de apoio acompanham a frota. Mesmo assim, navegadores acostumados a regatas internacionais consideram a Transat uma aventura inesquecível.

É o caso do francês Samuel Manuard, do protótipo 679, que vem pela terceira vez ao Brasil. Antes de partir de La Rochelle, ele admitiu que organização demais não combina com o navegador: “Até antes de partir, nunca terminamos de arrumar tudo”.

A beleza do trajeto é outro fator valorizado pelos navegadores. A Transat 6.50 Charente-Maritime/Bahia é promovida desde 2001 pelo Grand Pavois Organisation e mistura paisagens diversas dos hemisférios Norte e Sul.

A variedade de condições climáticas e as mudanças de vento na passagem do Equador também compõem o perfil da Transat, que foi criada há 30 anos, quando Petit Dauphin ganhou a primeira prova.

Uma paixão pelo mar

Quando perguntam a Yves qual o seu barco preferido, se ele prefere um mini ou uma embarcação de grande porte, o francês, simplesmente dá de ombros. Afinal, para ele, “os fundamentos são os mesmos”.

Uma resposta à altura de um típico capitão, um campeão cuja paixão pelo mar se mantém intocada desde os primeiros dias da carreira de navegador em solitário ou em equipe, não importa.

Nascido em Palaiseau, nos arredores de Paris, em 15 de julho de 1965, Yves começou a sonhar com o mar ainda na infância, quando gostava de acompanhar os barquinhos com a vista curiosa, até sumirem no horizonte.

Os passeios em família nos barcos à vela, durante as férias, atiçaram a admiração do francês pelos mistérios do oceano. Da admiração para a paixão foi só um porto, não mais que isso.

Antes de enfrentar as regatas internacionais, Yves curtiu de tudo um pouco no mar, desde o windsurfe às embarcações de maior porte, onde houvesse água salgada, lá estava ele se apresentando para o embarque.

Ainda adolescente, manteve a firmeza no sentimento, mesmo depois de algumas dificuldades naturais ao arrojo da juventude. A aventura, sempre inalcançável, mas igualmente instigante, não o abandonava.

A vivência desta história de amor pelo esporte náutico fez Yves acreditar que um navegador não se faz em um dia. Aperfeiçoou seu talento em um curso com instrutores de vela mais experientes.

Em 2001, correu sua primeira temporada no Circuito Mini 6.50. Depois, participou de outras disputas e pegou gosto pela coisa. Mas não deixa que a paixão desmedida pelo mar atrapalhe seu relacionamento com as filhas.

Yves mantém a cabeça fria e jamais força suas herdeiras a ter o mesmo prazer pela navegação. “Estou disponível se querem navegar, mas não quero impor nada”, disse o navegador de 42 anos.