Quem curte as emoções da Fórmula 1, não sabe o que perdeu ao deixar de assistir à largada da Clipper Round, realizada, hoje (24), em Salvador. A saída da segunda etapa da Regata Internacional aconteceu ao meio-dia e teve muito mais ultrapassagens e surpresas até o alto mar do que as tradicionais corridas da F1.

E com uma vantagem: em vez de gasolina e poluição sonora, o vento é o “combustível” em um cenário de cinema que faz a alegria dos repórteres fotográficos, felizes em reunir a beleza dos barcos aos cartões-postais da capital, como o Farol da Barra.

Para quem ainda não conhece bem as regras desta modalidade, o mais curioso é que a ordem do “grid” é espontaneamente gerada pelas condições de navegação, no momento da largada e quem tem mais vento em popa larga na frente.

O barco canadense Nova Scotia foi o primeiro a cruzar a bóia de largada, aproveitando a velocidade de cerca de 7 nós, ou o equivalente a 13 quilômetros por hora. Singapore, Western Austrália e Glasgow vieram embolados, disputando a segunda posição.

O barco Durban saiu em último, rumo à cidade que representa, na África do Sul, próxima parada da Clipper. O capitão Ricky Chalmers queria seguir por fora da flotilha, para pegar mais vento, mas a estratégia não deu certo e o jeito foi repensar a tática.

A primeira bela ultrapassagem foi do Western Austrália pelo Nova Scotia, mas, a seguir, uma intensa troca de posições deixou atordoado o comandante do barco encarregado de levar os fotógrafos o mais perto permitido pelos diretores da prova.

Diante de tanta alternância na disputa pelas posições, o comandante do catamarã Biônica de Tinharé, Vitório Nascimento, conhecido por Paquito, teve muita cautela para não atravessar à frente de alguma embarcação, o que poderia impugnar a largada.

O último visual antes do retorno da imprensa especializada a Salvador colocava Singapore em primeiro, seguido por Western Austrália, Nova Scotia e Jamaica, em uma bela recuperação, em quarto. New York e Liverpool disputavam o quinto lugar.

Entre os últimos, Durban tinha superado Glasgow, deixando para o Hull & Humber a incômoda lanterna em um dia tão claro de sol forte, após as últimas nuvens terem descortinado a paisagem baiana.

Depois de deixar a primeira capital brasileira, a segunda etapa vai atravessar o Atlântico Sul sem parar até alcançar o Cabo da Boa Esperança e chegar ao porto de Durban. Uma aventura que inclui alguns riscos por conta das tormentas comuns na reta de chegada.

Antes de partir, um dos tripulantes do Nova Scotia, o industriário de uma companhia de petróleo, Ed Kalthoff, de Calgary, Canadá, valorizava a importância de largar bem para dar mais confiança ao grupo. “Esta corrida é maravilhosa, não há nada igual”, disse.

Ed destacou a importância de fazer certinho o conserto no barco, apesar do cansaço da tripulação. “Arrumamos um mastro que estava rachando e alguns trecos, porque é um puxa daqui, puxa dali, e muita coisa precisa verificar”, afirmou, bem-humorado.

O canadense destacou ainda a oportunidade de fortalecer amizades e conhecer pessoas nos locais por onde passa, além de apreciar belas paisagens, como as de Salvador, e ao visitar Morro de São Paulo, no Baixo Sul baiano.

O novo capitão do New York, Duggie Gillespie, também saiu com a tripulação, antes de voltar para o oceano, aproveitando para ver tartarugas em área de proteção na Praia do Forte, no Litoral Norte, acompanhado dos amigos do Singapore, como Hizam Hayon.

A regata Clipper Round The World é também uma maneira eficiente de divulgar destinos turísticos que querem captar mais visitantes, como a Jamaica, mundialmente famosa pelo reggae e as lições de vida deixadas por Bob Marley e cultuadas pelos rastafári.

Há também governos que estão investindo para fortalecer a divulgação de outros eventos esportivos, como são os casos da China, que patrocina o barco Qingdao, e da África do Sul, com o Durban 2010.

Qingdao é a cidade chinesa onde serão realizadas as competições náuticas dos Jogos Olímpicos do próximo ano, enquanto a África do Sul prepara os estádios para a Copa do Mundo de futebol em 2010.