Dois dos 76 casarões incluídos na sétima etapa de revitalização do Centro Histórico de Salvador serão devolvidos aos moradores amanhã (3), às 10h, pelos governos federal e estadual. Situados às Ruas 28 de setembro, nº 10, e 3 de maio, nº 21, esses casarões estavam em ruínas e foram restaurados para moradia de 11 famílias da Associação de Moradores e Amigos do Centro Histórico de Salvador (Amach). Os casarões em processo de restauração abrigarão 337 unidades habitacionais e 55 pontos comerciais. O custo total do projeto, que inclui a recuperação de outros sete monumentos, será de R$ 25,9 milhões.
Grande parte dos casarões e monumentos em processo de restauração foram condenados pela Defesa Civil este ano. Esses imóveis serão recuperados e transformados em habitação para a população carente, na faixa de renda de até dois salários mínimos. “A ansiedade das famílias é grande. Pela nossa luta, esse é um marco da conquista pela permanência. Estamos ganhando aos poucos. É uma vitória que mostra a nossa organização. Os apartamentos são ótimos, bem adequados à composição familiar, e os moradores estão satisfeitos”, conta a presidente da Amach, Jecilda Mello.
Nos 16 anos anteriores a 2002, a revitalização do Centro Histórico foi traumática. Nesse período, 1.674 famílias de moradores do Pelourinho foram expulsas para que as áreas restauradas fossem transformadas em centro comercial e cultural. Desde então, o conceito do projeto foi reformulado, com o objetivo de abrigar os antigos moradores. Eles residirão em imóveis tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Esses edifícios serão transformados em apartamentos com um, dois e três dormitórios, com áreas de 26 a 55 m2. Os recursos são do Programa Monumenta, do Ministério da Cultura, do Governo da Bahia e do Ministério das Cidades.
A recuperação do patrimônio histórico como forma de inclusão social é o que orienta a sétima etapa da revitalização. A nova fase busca a sustentabilidade da região, atendendo às reivindicações da Amach. A Associação denunciou ao Ministério Público Estadual os despejos forçados, promovidos no Centro Histórico até 2002. O governo federal apoiou a Amach e a partir de um trabalho conjunto foi assinado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), que garantiu a permanência dos moradores na área, em condições dignas e adequadas à realidade de cada família.
Para o presidente do Iphan, Luiz Fernando de Almeida, as mudanças no zoneamento urbano de Salvador foram realizadas mediante políticas públicas equivocadas. "O conceito preponderante naquele momento era o de esvaziamento, de retirada da população, até porque havia um modelo de gentrificação (enobrecimento), de modo a tornar aquilo mais aceitável e palatável para o padrão de consumo da classe média e turística. Assim, prevaleceu a idéia de transformar o centro de Salvador exclusivamente em núcleo turístico, expulsando a população de baixa renda", definiu.
O governador Jaques Wagner; o secretário-executivo do Ministério da Cultura, Juca Ferreira; os secretário de cultura, Marcio Meireles, e do Desenvolvimento Urbano, Afonso Florence,a diretora do Departamento Imaterial do Iphan, Márcia Sant’Anna, o coordenador nacional adjunto do Programa Monumenta, Robson Antônio de Almeida; e a diretora da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder), Maria del Carmen, estarão presentes à inauguração. Eles também assinam um acordo de cooperação entre União, Estado e Município e o decreto que institui o Conselho Gestor do Centro Antigo de Salvador.