Cerca de 1.500 famílias dos municípios de Jeremoabo, Curaçá, Contendas do Sincorá e Itatim serão beneficiadas com o Projeto de Conservação e Gestão Sustentável do Bioma Caatinga (Projeto Mata Branca), que pretende contribuir para a preservação, conservação e uso sustentável deste bioma.
O lançamento do projeto aconteceu ontem (24), em Jeremoabo, no norte da Bahia, e teve a participação de representantes da sociedade, de comunidades tradicionais e do poder público municipal, estadual e federal.
A iniciativa é uma parceria do Banco Mundial (Bird) com os governos da Bahia e do Ceará, priorizando áreas de maior relevância do bioma, pelo alto nível de degradação, além de modelos de uso da terra e áreas instituídas como unidades de conservação.
As ações estão previstas para começar em janeiro de 2008, com prazo de cinco anos para conclusão. O investimento será de R$ 23 milhões, sendo R$ 10 milhões do Bird, via Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF), e R$ 13 milhões referentes à contrapartida dos governos dos estados envolvidos.
O patrimônio histórico, cultural e ambiental da aldeia indígena Tumbalalá, na região de Curaçá, está garantido pelo projeto. As 4 mil pessoas que vivem na comunidade serão beneficiadas com ações de fomento à produção de frutas, aproveitamento de plantas para a medicina natural e artesanato.

Ganhar dinheiro e salvar a natureza

Com a fibra natural da caatinga, o caruá, a índia Maria José Gomes, 46 anos, tira o sustento da família. Ela produz tapetes, bolsas e arranjos de buchas a partir da riqueza existente na biodiversidade em pleno semi-árido baiano. “É uma oportunidade pra gente continuar trabalhando e ganhar o nosso próprio dinheiro, como também salvar a natureza”, disse.
A espécie nativa mais ilustre de Jeremoabo, a arara-azul-de-lear, tornou o município conhecido internacionalmente. Presente na fauna da caatinga, a ararinha está ameaçada de extinção e só pode ser encontrada em Jeremoabo e no município de Canudos.
Trabalhando há 30 anos na preservação da espécie, o membro do Comitê Internacional de Manejo e Preservação da Arara-azul-de-lear, Otávio Farias, 60 anos, comprou até propriedades na região para acompanhar o desenvolvimento de programas educacionais para a sua preservação.
“A arara é a razão da minha vida, e pela primeira vez, nesses 30 anos, senti firmeza, como dizem os sertanejos”, afirmou, ao se referir às expectativas do Projeto Mata Branca, que prevê investimentos para a reprodução da espécie.
A antropóloga e coordenadora do projeto no Bird, Juditi Lisaiski, explicou que o GEF contribui para o desenvolvimento sustentável em mais de 200 países, desenvolvendo ações para minimizar os efeitos do aquecimento global e para preservar e conservar a biodiversidade do planeta.
Segundo Lisaiski, o ecossistema, exclusivamente brasileiro, está recebendo a atenção do mundo. “A caatinga é o único meio de sobrevivência de muitos nordestinos, por isso queremos colaborar na proteção desse importante bioma”, disse.

Escuta popular

O secretário estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Juliano Matos, ressaltou que não dá para construir política pública sem diálogo e escuta popular. “E quando há a participação e o envolvimento de outros órgãos do governo e das comunidades envolvidas, o resultado é imediato. A identidade do nosso estado é construída pelos baianos que vivem na região da caatinga, bioma existente em mais de 65% do nosso território”, justificou.
O Mata Branca é promovido pela Semarh, Secretaria de Desenvolvimento e Integração Regional (Sedir), via Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), e Fundação Luís Eduardo Magalhães (Flem), em conjunto com o Conselho de Política e Gestão do Meio Ambiente do Ceará.