Iniciativas adotadas de forma pioneira pela Bahia, via Secretaria da Saúde (Sesab), estão sendo consideradas modelo pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT), do Ministério da Saúde, e podem ser implementadas em outros estados para aumentar o número de doações e transplantes de órgãos, que nos últimos três anos vem sofrendo quedas progressivas em todo o país.

A criação de equipes especiais treinadas para fazer a busca ativa por órgãos nos hospitais é uma das experiências da Sesab e está sendo apontada como fundamental para a ampliação do número de doações, segundo o diretor-geral da Coordenação do Sistema Estadual de Transplantes (Coset), Eraldo Moura.

O subcoordenador Rogério Obregon Mattos, da Coset, afirmou que a equipe de busca ativa da Sesab já atua nos hospitais da rede pública de Salvador que têm unidade de terapia intensiva e em algumas unidades da rede privada, e brevemente o projeto será expandido para Feira de Santana e Camaçari.

Os resultados positivos, disse, podem ser observados no aumento das doações de múltiplos órgãos este ano, que foram 125% superiores às registradas durante todo o ano passado – 36 este ano, contra 16 em 2006.

Moura citou também a inclusão de módulos sobre transplante nas faculdades de Medicina como uma ação implantada pela secretaria que está sendo apontada, em nível nacional, como exemplo a ser seguido.

O responsável pela Central de Transplantes de São Paulo, Luiz Augusto Pereira, declarou que não consta no currículo das faculdades o ensino das técnicas para o trabalho de captação de órgãos.

Desde o ano passado, a Coset mantém contato com reitores e diretores das faculdades de Medicina para incluir na grade curricular módulos sobre captação e transplante de órgãos, além de programar palestras e estabelecer convênios de cooperação técnica.

Últimos avanços

O aumento significativo no número de doações de múltiplos órgãos este ano não foi a única conquista recente da Sesab. Ontem (16), houve a primeira doação e captação de órgãos no município de Vitória da Conquista, no Hospital de Base. A família de A.S.B., 24 anos, vítima de traumatismo crânio-encefálico (TCE), autorizou a doação dos órgãos, que foram captados por uma equipe de profissionais da Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO) e ontem mesmo trazidos para Salvador.

Obregon informou que o transplante de fígado já foi realizado, os rins devem ser transplantados ainda hoje (17), as córneas foram levadas para o Banco de Olhos da Sesab e o coração foi enviado para Curitiba (PR), onde será utilizado em transplante de válvula cardíaca.

Moura destacou o empenho do governo da Bahia, que imediatamente disponibilizou uma aeronave para o deslocamento da equipe de captação, “e o transporte dos órgãos captados foi fundamental neste processo”.

Esta semana, mais duas doações de múltiplos órgãos foram contabilizadas pela CNCDO – uma no último dia 13, no Hospital da Sagrada Família, e outra no Hospital Português, no dia 14. O segundo caso exigiu um grande esforço da equipe do Sistema Estadual de Transplantes, porque a doação foi autorizada pela família do doador, que mora na França, mas foi necessário ter autorização judicial. O doador foi J.M.L.G., um padre francês de 52 anos, vítima de acidente vascular cerebral (AVC).

Situação atual

Existem hoje na Bahia cerca de 4 mil pacientes em lista de espera para transplante. Moura afirmou que isso representa menos de dois doadores de órgãos por milhão de habitantes, quando o ideal seria 50 doadores por milhão. Outro problema apontado por ele é a negativa dos familiares dos potenciais doadores, que na Bahia é o dobro da maioria dos outros estados.

A Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO) apontou que no primeiro semestre deste ano o Brasil teve uma média de 5,4 doadores por milhão de habitantes – índice menor que o apontado em 2004 (7,6), 2005 (6,4) e 2006 (5,8).
Para reverter o quadro, o SNT, responsável pela política de doação e transplante no país, aposta na criação de equipes de busca ativa, medida já adotada pela Sesab, que na prática significa disponibilizar nos hospitais um grupo especializado para identificar potenciais doadores, fazer o diagnóstico de morte cerebral, conseguir autorização dos familiares para doação, retirar os órgãos e conservá-los para a realização dos transplantes.

Os técnicos do SNT explicaram que este modelo fez da Espanha o país com os melhores índices mundiais na captação de órgãos.