Não depender mais do Governo do Estado para semear suas cinco tarefas de terra. Esse é o desejo do agricultor familiar José Marques de Souza, 32 anos, morador da zona rural de Irecê. Ele foi o primeiro produtor a receber, hoje (14), uma parte das 248 toneladas de sementes distribuídas pelo Programa Semeando, desenvolvido pela Secretaria Estadual de Agricultura (Seagri), a 6,5 mil agricultores familiares de 21 municípios da região. Na Bahia, já foram atendidos pelo programa, que pretende acabar com a necessidade deste tipo de ação por meio da criação de um banco de sementes, mais de 25 mil famílias de 85 cidades.

Marques disse que, antes de receber as sementes, passou por um treinamento, onde aprendeu a tirar a maior produtividade dos grãos. “Fui informado de que essas sementes são impróprias para o consumo, precisam ser plantadas para render após a colheita. Também fui orientado a destinar uma parte da produção para a criação de um banco de sementes, para não precisar mais do apoio do Estado para adquirir o produto”, destacou.

A coordenadora da Superintendência da Agricultura Familiar, Lúcia Caetana, disse que os agricultores têm o costume de plantar grãos sem nenhum tipo de preparo e, por isso, perdem muito da sua produtividade. “A semente distribuída pelo Programa Semeando é certificada e adaptada ao solo, com garantia de 98% de germinação, o que possibilita um aumento de até 60% na produção do agricultor familiar”, informou.

Lúcia disse que o programa atende aos 25 Territórios de Identidade, exceto a Região Metropolitana de Salvador, e está dividido em três linhas de ação – distribuição de semente, formação de um banco de sementes, para que não seja mais necessária a intervenção do estado na distribuição do produto, capacitação de técnicos, que repassam os conhecimentos para os agricultores. “Este ano foram capacitados 36 técnicos, que atenderam a 80 associações. Na próxima segunda feira, começa o treinamento para mais 44 multiplicadores”, afirmou.

Distribuição

A distribuição das sementes, segundo a coordenadora, foi feita por uma comissão estadual formada por membros do governo e das entidades representantes dos agricultores, atendendo, principalmente, aos municípios onde há maior número de produtores familiares. “Mas a distribuição prevista pela comissão estadual ainda pode ser adequada pelas comissões territoriais, como aconteceu em Vitória da Conquista”, lembrou Lúcia. Ela disse que os próprios produtores preferiram dividir as sementes e acabaram beneficiando o dobro do número de famílias que estava previsto.

O superintendente da Agricultura Familiar da Seagri, Aílton Florêncio, disse que uma das estratégias do Semeando é a produção de sementes pelo próprio estado que, atualmente, compra de outras regiões do Brasil. “Estamos com o campo de Utinga produzindo em cercas de 50 hectares e negociando uma região, em Sento Sé, para a implantação de campos de produção de sementes. Queremos que a Bahia tenha autonomia na produção de sementes utilizadas na sua agricultura”, destacou.

Verticalização da agricultura

Para o beneficiamento da produção, segundo Aílton, estão sendo construídos empreendimentos de verticalização da agricultura familiar. “Desde polpa de frutas, casas de farinha, caprino-ovino-cultura, entre outras, feitas em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário”, afirmou. Ele disse que o governo está também desenvolvendo ações no processo de comercialização, apoiando a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a compra direta e verificando de que forma a Ebal se adapta à compra dos produtos da agricultura familiar.

“Para isso, estamos colocando os produtos no grande mercado, construindo dez centros de redistribuição dos produtos da agricultura familiar. O de Irecê é um deles, que está sendo construído com recursos dos governos estadual e federal e estamos licitando mais dez”, informou.

Falta de apoio

Para Aílton, o pequeno produtor não teve nenhum apoio nos últimos 20 anos. “A última vez que o estado distribuiu sementes foi em 2002, mas em um volume de apenas 10% do que está sendo entregue pelo Semeando”, contabilizou. Ele disse que a Bahia é o estado que tem o pior desempenho de acesso a crédito, apesar de possuir o maior número de agricultores familiares do país. “Enquanto o Rio Grande do Sul capta um bilhão de reais por ano do Pronaf, a Bahia capta apenas R$ 200 milhões”, citou.

Nesse sentido, o superintendente disse que já houve negociação com os bancos para haver uma ampliação dos créditos. “Historicamente, era disponibilizado entre R$ 200 e R$ 300 milhões anuais, valores que não eram alcançados e acabava sobrando dinheiro. Este ano, subimos este valor para R$ 700 milhões e estamos trabalhando para que sejam integralmente aproveitados”, garantiu.

Aílton citou também a distribuição de 2,8 milhões de mudas no eixo da mata atlântica. “Vamos desenvolver um sistema agro-florestal, o que equivale dizer que, em alguns anos, cada produtor dessa região vai obter, pelo menos, dois salários mínimos de renda”, previu. Ele disse que o governo também está estimulando, nessa região, a cultura da seringueira, produzindo três milhões de mudas para serem distribuídas, o que será importante para a cadeia da borracha.