O projeto Irê Ayó, voltado à formação de multiplicadores para a inclusão da cultura afro-brasileira nas escolas, será apresentado em duas palestras, na Semana da Consciência Negra. Hoje (19), a historiadora e doutora em educação, Vanda Machado, fala sobre o projeto, às 19h, no Centro de Cultura de Porto Seguro. Na sexta (23), às 17h, ela mostrará “O lugar do negro na cultura, na arte e na ciência”, no Forte Santo Antônio, em Salvador. O evento é aberto ao público.

O Irê Ayó – que em ioruba significa ‘caminho de alegria’- está sendo desenvolvido por Vanda Machado, na Secretaria de Cultura da Bahia, com o objetivo de “contribuir para a formação de educadores, na operacionalização das diretrizes curriculares nacionais, a educação das relações étnico-raciais e o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana”.

Uma das metas é fazer valer a Lei 10.639, assinada, em 2003, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que determina a inclusão da cultura e da história da civilização africana nos currículos escolares de todo o país. A iniciativa começou a ser implantada nos municípios de Valença, Tancredo Neves, Taperoá, Nilo Peçanha, Cairu, Wenceslau Guimarães, Piraí do Norte, Ituberá, Maraú, Ituberá, Camamu, Igrapiúna, Taperoá, Irecê, São Gabriel, Presidente Dutra, Itabuna, Itacaré, Ilhéus, Ubaitaba, Coaraci e Salvador.

Na capital, o projeto teve seu inicio, em 1998, na Escola Municipal Eugênia Anna dos Santos, localizada no terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, onde são atendidas 350 crianças do bairro de São Gonçalo e adjacências, mantendo, hoje, parceria com a Secretaria de Cultura.

No interior, o Irê Ayó já capacitou 194 multiplicadores, que serão responsáveis por difundir a proposta entre os demais municípios de cada território. No Baixo Sul, os grupos dos dois municípios (Valença e Ituberá) estão se preparando, por exemplo, para levar o projeto a 14 municípios, uma parceria entre a Secretaria de Cultura da Bahia, Instituto de Desenvolvimento Sustentável do Baixo Sul (Ides), Associação dos Municípios do Baixo Sul (Amubs) e prefeituras municipais. Até agora, 20 municípios assumiram o compromisso de priorizar a educação das relações étnico-raciais em seus currículos.

Princípios

“Um dos pressupostos do projeto Irê Ayó é de que nunca é tarde para buscar aquilo que ficou para trás”, explica Vanda Machado. Segundo ela, um dos objetivos é pensar a África a partir de princípios legados pelos ancestrais, mostrando aos educadores como a herança cultural de matriz africana pode ser trabalhada também nas salas de aula, no sentido de se reconfigurar outras formas de relações entre negros e não negros, em nosso país e em nossas comunidades, contribuindo para a afirmação de sujeitos autônomos, solidários e coletivos.

“Estamos enfatizando os valores africanos tradicionais como respeito à ancestralidade, à mulher, à família, além de mostrar a contribuição do negro nas artes, na medicina e nas ciências humanas”, afirma Vanda, destacando a importância da presença dos afrodescendentes na arte brasileira em obras como a de Aleijadinho, Castro Alves, Machado de Assis, Pixinguinha e Cartola, além de contribuições em áreas como as ciências humanas e medicina, com Milton Santos e Juliano Moreira.

Para Noel Costa dos Santos, um dos educadores que participaram do curso em Itabuna, a capacitação superou as expectativas. “Cheguei pensando que se discutiriam documentos sobre a Lei 10.639, que os costumes e religiosidade do povo negro ganhariam centralidade na discussão, mas a coisa foi noutro rumo, bem mais gostoso do que eu havia pensado. Foi pro mítico, pro imaginário, outro jeito de ver e recriar a realidade. Adorei o ponto de partida pedagógico”, disse ele.