Produtores familiares, empresários do agronegócio e comerciantes do oeste da Bahia ainda estão comemorando o anúncio da construção da Ferrovia Oeste/Leste, feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 29 de outubro deste ano.

Olival Feliciano de Assis, 61 anos, é um dos 70 mil pequenos agricultores da região, e Humberto Santa Cruz é um dos 2 mil empresários do agronegócio e presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba). Eles acreditam que a obra vai proporcionar desenvolvimento não só para o oeste baiano, como para todo o estado.

“Para nós, vai melhorar, em todos os sentidos, aqui em Luís Eduardo Magalhães. Vamos poder nos associar para vender nossos produtos até para exportação, o que hoje é impossível”, disse Olival. Ele afirmou que, como haverá mais dinheiro circulando, até mesmo nas feiras da região será mais fácil vender sua produção de cebola, milho e outras pequenas culturas.

Humberto lembrou que o oeste da Bahia possui cerca de 1,6 milhão de hectares plantados e uma cadeia produtiva diversificada. “Temos potencial de crescimento para dobrar essa área, mas é preciso uma logística eficiente”, explicou.

Ele disse que, nesse sentido, a definição do modal ferroviário é uma segurança para o crescimento. “Apenas o anúncio do projeto já movimentou todo o mercado de terras e começa a afetar o pólo industrial, que será duplicado”, informou.

Destacou que o oeste vai deixar de ser só de produção primária, entrando também na industrialização. “Já temos hoje mais de 30 mil pessoas trabalhando aqui diretamente. Esse número, com certeza, vai duplicar e a ferrovia será um fator determinante nesse crescimento”, apontou.

O empresário declarou ainda que os produtores querem participar e investir na implantação e na gestão da ferrovia. “Isso vai permitir que tenhamos uma participação no transporte do nosso produto até o porto e na comercialização e exportação de uma maneira independente. Vamos fazer com que os preços da nossa produção atinjam um patamar diferenciado e mais competitivo”, ressaltou.

Instalação de porto-seco

Segundo o cafeicultor Carlos André, diretor do Sindicato Rural de Luís Eduardo Magalhães, a ferrovia vai possibilitar a instalação de um porto-seco. “Vamos conseguir exportar daqui os nossos produtos, e com menos burocracia. Os bancos e as linhas de crédito poderão ser acessados daqui mesmo”, comemorou.

Ele afirmou que os produtos já sairão da região com os trâmites aduaneiros resolvidos, desafogando o movimento nos portos e gerando empregos.

O secretário de Agricultura de Luís Eduardo Magalhães, Eduardo Yamashita, informou que o oeste baiano produziu, na safra recorde 2006/2007, 4,7 milhões de toneladas de grãos, gerando uma receita aproximada de R$ 3,2 bilhões. “No contexto de desenvolvimento da região, toda a comunidade será beneficiada com a ferrovia, além de parte do Tocantins, Piauí e norte de Minas”, disse.

A região é responsável por 4% da produção brasileira de grãos, segundo Toninho Assunção, gerente da Cooperativa dos Produtores do Oeste Baiano. Ele afirmou que os agricultores utilizam anualmente cerca de 856 mil toneladas de fertilizantes e outros produtos transportados em caminhões, o que representa um investimento anual de R$ 60 milhões.

Já para o transporte de grãos, Toninho observou que devem ser gastos outros R$ 450 milhões. “Com a implantação da ferrovia, economizaremos R$ 50 milhões por ano, entre transporte de grãos e insumos”, contabilizou.

Segurança nas estradas

O caminhoneiro Gilberto Bonfim, 24 anos, transportava caroço de algodão para Guanambi, a 700 quilômetros de Luís Eduardo Magalhães, quando o caminhão do seu colega José Aparecido virou na BR-242, entre Luís Eduardo Magalhães e Barreiras. Pelo trecho passam, em tempos de safra, cerca 1.500 carretas diariamente.

“A viagem dura entre 12 e 14 horas. Aqui, os acidentes são comuns”, afirmou. Gilberto disse que faz esse trajeto duas vezes por semana e que seu caminhão, carregado, chega a pesar 60 toneladas.

Para o produtor de algodão Walter Horita, a instalação da ferrovia não vai deixar esses caminhoneiros desempregados. “Para chegar do ponto de produção até o local de embarque na ferrovia, vamos precisar desses trabalhadores, que não correm o risco de ficar desempregados. Caso haja ainda uma sobra de mão-de-obra, poderá ser desviada para outras regiões produtoras”, destacou.

Horita declarou que isso será saudável também para as estradas. “Alguns caminhões já estão muito velhos e não deviam mais estar rodando. Além disso, o que mais causa problemas de manutenção nas rodovias brasileiras é justamente o excesso de peso das carretas”. Ele disse também que, com 4 ou 5 milhões de toneladas de grãos sendo transportados via ferrovia, haverá uma vida útil muito maior das estradas.

Redução do frete

Outro benefício apontado pelo empresário foi a redução no valor do frete e na perda de grãos. “O transporte ferroviário é muito mais barato que o rodoviário e há uma perda no processo de transporte de grãos, que vão caindo pela estrada”, informou. “Quando são perdidos 2 ou 3% da produção de alguns milhares de toneladas, há uma grande perda diretamente no lucro do produtor”.

O engenheiro ferroviário Rafael Vasconcellos explicou que uma locomotiva moderna, com capacidade elevada, consegue transportar cerca de 25 vagões, o que corresponde a aproximadamente 50 carretas. “Além disso, a manutenção entre rodovia e ferrovia é equivalente, com o diferencial de que as empresas operadoras do transporte ferroviário pagam a operação e a manutenção, desonerando o Estado e reduzindo o custo do frete”, afirmou.

Vasconcellos disse que a Ferrovia Oeste/Leste, com extensão de 1.200 quilômetros, possui um trajeto com poucas rampas. “No Centro-sul do país, para se construir uma ferrovia, é necessário subir e descer a Serra do Mar, o que aumenta enormemente os custos de implantação e operacional”, ressaltou. “A Bahia tem a oportunidade de construir uma rampa relativamente pequena e inédita no mundo”.

Para o secretário estadual do Planejamento, Ronald Lobato, a ferrovia é um sonho antigo que vai proporcionar a integração da Bahia com o Oeste brasileiro e no futuro poderá chegar ao Oceano Pacífico, no Peru. “O Brasil é um país com a logística deteriorada, e a Bahia tem condições privilegiadas para oferecer alternativas econômicas”, declarou.

Ele disse que, junto com a Norte/Sul e a Transnordestina, o estado passará a oferecer ao Oeste brasileiro condições de escoar sua safra e importar os insumos de que precisa.

A ferrovia sairá de Luís Eduardo Magalhães, passando por Caetité e Brumado, até chegar a um novo porto no litoral baiano – a ser construído no município de Ilhéus.

A Oeste/Leste vai custar R$ 2,5 bilhões, com recursos dos governos federal e estadual, e será uma ferrovia especializada em granéis, sendo a predominância de grãos, minérios e biocombustíveis produzidos nas regiões oeste, sudoeste e sul da Bahia.

Já para importação, a Oeste/Leste beneficiará o escoamento de fertilizantes e derivados de petróleo do litoral até o oeste do estado. Com a construção da ferrovia, devem ser gerados mais de 10 mil empregos.