Às 6h o movimento de automóveis na BR 324, entre Salvador e Feira de Santana, já é intenso. De acordo com o Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT), pela rodovia passam diariamente, em média, 60 mil veículos nos dois sentidos. A BR 324 é o principal acesso para Salvador, Camaçari, Porto de Aratu e municípios da Região Metropolitana, onde estão concentrados 50% do Produto Interno Bruto (PIB) do estado; 85% da carga que é escoada pelo Porto de Salvador passam por ela.

Tão elevado quanto o volume de tráfego é o número de acidentes na 324. Só no primeiro semestre de 2007, houve 762 acidentes com 359 e 29 mortos na rodovia, segundo a Polícia Rodoviária Federal. Quarta-feira (31), a nossa equipe de reportagem estava na estrada quando um caminhão de frutas de Lauro de Freitas, placa JQB 4864, capotou e foi de um lado a outro da pista, fazendo mais uma vítima: Jorge Alberto Jesus Pereira, de 40 anos.

Em alguns trechos, as pistas estão com péssimas condições de conservação, com pavimentação irregular, deformações e erosão na superfície. O operário paulista Ilton Vianês, que veio de São Paulo com a mulher e três filhos num carro de passeio visitar os parentes no interior da Bahia, cruzou o trecho que considerou perigoso. “Para ter mais segurança, eu prefiro pagar pedágio, pelo menos não corro riscos como os que estou enfrentando nessa viagem”, afirmou.

Para o comerciário Sérgio Nunes, a privatização é uma necessidade na Salvador-Feira. “O aumento do fluxo de veículos é natural em função do próprio crescimento econômico do estado e a privatização deve beneficiar os usuários porque vai oferecer melhorias no asfalto e na sinalização. É mais conforto para todos”, opinou, com uma ressalva: “O estado tem de fazer o papel dele, supervisionando essa atividade”.

Contratos de concessão

Os estudos do governo federal para o contrato de concessão desse trecho da BR 324 já foram feitos e prevêem a recuperação total de 113 quilômetros. Além desses, estão previstas, pelo Ministério dos Transportes, a duplicação e recuperação de 84 quilômetros da BR 116, de Feira de Santana até o Rio Paraguaçu. Nesse percurso é comum o uso do acostamento como terceira pista pelos caminhoneiros, que muitas vezes fazem ultrapassagens perigosas, como a realizada pelo motorista de uma carreta carregada de produto químico, à frente do carro em que estava a nossa equipe.
Os caminhoneiros dizem que a manobra arriscada é feita para não tornar o tráfego ainda mais lento e que a duplicação da pista evitaria os riscos. “Eu estou há um mês na estrada. Às vezes, a gente tem de fazer isto para não atrasar a carga. Se a pista fosse duplicada, pelo menos nesse trecho mais intenso, seria outra coisa”, diz Luis Borges da Silva, caminhoneiro de Fraiburgo, em Santa Catarina, que chegou à Bahia pela BR 116 sul. O caminhoneiro acha que vale a pena pagar pedágio para ter uma estrada mais segura, desde que o preço seja justo. “Em São Paulo, a gente paga até R$ 3,00 por cada eixo do caminhão e há veículos com nove eixos. É um absurdo”.

O governo estima investimentos, pela concessionária vencedora da licitação, da ordem de R$ 1,14 bilhão para a recuperação das BRs 324 e 116, incluindo o anel rodoviário de Feira de Santana, que desvia o tráfego pesado da cidade e dá acesso à 116 norte e sul. Numa etapa posterior, mais 453 quilômetros da BR 116 sul, do Rio Paraguaçu até a divisa com Minas Gerais, vão ser recuperados. O edital para a concessão das duas rodovias à iniciativa privada por 25 anos deve ser lançado até o início de 2008.

Já na BR 101, o Ministério dos Transportes deve gastar R$ 68,5 milhões para recuperar 171 quilômetros, no trecho entre o Monte Pascoal, no extremo sul da Bahia, até o Espírito Santo. As obras vão ser iniciadas este mês pelo 11º Batalhão de Engenharia do Exército Brasileiro e devem acabar em 210 dias. A BR 101, na Bahia, deverá integrar a terceira etapa do programa federal de concessão de rodovias.