A falta de doadores de órgãos é o principal obstáculo para a ampliação do número de transplantes no Brasil, segundo o médico Valter Garcia, coordenador da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos – Abto. Ele participa, no Hotel Catussaba, de um curso, realizado em parceria com a Secretaria de Saúde do Estado, para formação de coordenadores hospitalares de transplantes.

Garcia apontou também outros fatores que têm influência negativa na questão dos transplantes, a exemplo do risco cirúrgico e da perda precoce do enxerto (órgão transplantado), mas garantiu que o peso maior recai sobre o reduzido número de doadores no país.

O curso reúne até amanhã (24), representantes de hospitais públicos e privados, que possuem mais de 80 leitos, num total de 50 participantes. Os profissionais estão sendo capacitados para a busca ativa e a captação de órgãos nas unidades hospitalares onde atuam.

Na instalação do evento, o superintendente de Atenção Integral à Saúde da Sesab, Alfredo Boa Sorte, que representou o secretário da Saúde, Jorge Solla, afirmou que ao assumir o governo, no início do ano, “tínhamos consciência da vergonhosa posição da Bahia no setor de transplante de órgãos”. Disse ainda que é impossível reverter a situação em tão pouco tempo, mas lembrou que houve uma melhora significativa no número de doações de múltiplos órgãos, registrando, este ano, um aumento superior a 100% em relação ao ano passado – foram 41 doações em 2007 e 16 durante todo o ano de 2006.

Falta sensibilização

O superintendente avalia o curso como uma importante oportunidade para que os profissionais envolvidos façam uma reflexão em torno das estratégias para a área dos transplantes. Boa Sorte observou que a rede pública de saúde ainda não é a ideal e que há escassez de recursos humanos, problema que deverá ser sanado com a realização, no próximo ano, de concurso público para a Sesab. Ele chamou a atenção para a necessidade de mais investimentos na sensibilização da população sobre a importância da doação de órgãos.

“Ainda existem diversos tabus a serem vencidos, envolvendo inclusive dogmas e religiões. É preciso avançar na comunicação social e investir em lideranças comunitárias, que atuem na divulgação de informações sobre a importância da doação”, pontuou o superintendente.

O coordenador do Sistema Estadual de Transplante, Eraldo Moura, mantém a expectativa de que o curso possa reverter o quadro atual para melhorar a qualidade de vida das pessoas que precisam de um transplante. Existem, atualmente, na Bahia, cerca de 4.000 pacientes em lista de espera para transplante. A negativa dos familiares dos potenciais doadores é um dos principais problemas apontado pelo médico, que também defende a necessidade de constantes campanhas de esclarecimento sobre processo de doação e transplante de órgãos junto à população.

Poucos doadores

O coordenador da Abto, Valter Garcia, falou sobre a situação dos transplantes no Brasil e garantiu que a entidade quer trabalhar cada vez mais integrada ao Ministério e secretarias estaduais de Saúde, com o objetivo de aumentar o número de doações no país. “Temos poucos doadores e isso se reflete no menor número de transplantes e no maior número de pessoas morrendo sem conseguir o transplante”, disse, acrescentando que melhorar essa realidade depende muito dos profissionais que estão dentro dos hospitais, onde também estão os possíveis doadores.

Garcia mostrou dados referentes ao ano passado, quando existiam de mais de 14 mil pessoas precisando de um transplante e foram feitas 8.713 cirurgias. A educação continuada de coordenadores hospitalares e médicos intensivistas, a adequação do número de centros transplantadores e a criação de hospitais-dia para receptores de transplantes foram algumas medidas sugeridas pelo médico para a ampliação do número de transplantes. No ano passado, no Brasil, foram notificados 5.627 potenciais doadores e apenas 1.109 doações foram efetivadas.

O pequeno número de identificação e notificação dos potenciais doadores, dificuldades na manutenção dos potenciais doadores e a elevada taxa de recusa familiar, foram fatores citados pelo coordenador da associação como determinantes para o pequeno número de transplantes realizados no país. Segundo Garcia, a Bahia detém a maior taxa de negativa familiar – em torno de 70%, enquanto a média brasileira está em torno de 30%.

Amanhã, serão realizadas exposições sobre transplante de órgãos torácicos e transplante de córneas. Haverá também simulação de entrevista familiar e da logística da doação.