Adolescentes autores de atos infracionais, que já cumpriram ou cumprem medidas sócio-educativas, vão agora ter um espaço onde podem realizar atividades lúdicas e artísticas. No Centro de Cultura e Arte do Pelourinho (Cecap), inaugurado hoje (10), com a presença do governador Jaques Wagner, eles poderão participar de oficinas de balé, teatro, percussão, tecelagem, lapidação, fuxico, customização, confecção de figurinos e bolsas.

Vinculado à Fundação de Amparo à Criança e ao Adolescente (Fundac), o centro funciona no prédio ao lado do Theatro XVII, no Centro Histórico, também vai oferecer cursos de informática básica, manicure, pedicure, embelezamento afro, bijuterias e reciclagem. A idéia é promover a inclusão social de aproximadamente 200 jovens, entre 14 e 18 anos, por meio de profissionalização e da arte.

As atividades se estendem ainda aos jovens encaminhados pelo Ministério Público, escolas e Juizado da Infância e da Juventude. Além disso, 30% das vagas são reservadas para a comunidade do Pelourinho. O centro funciona desde 1996, mas foi reaberto – após reforma, cujo investimento foi de R$ 227 mi – com o diferencial no público alvo, que agora são os adolescentes em cumprimento de medidas sócio-educativas em regime de semi-liberdade ou liberdade assistida. “E ainda atendemos os egressos dos programas da Fundac”, explicou Ivete Torres Lima, responsável pela Gerência de Atendimento Articulado Operacional da Fundac.

Para participar das oficinas e dos cursos, os jovens devem estar freqüentando regularmente a escola. Cada um deles terá direito a uma bolsa-aprendizagem, no valor de R$ 100 por mês, com direito a acompanhamento de assistentes sociais e psicólogos. Na solenidade de inauguração, realizada no auditório do Theatro XVIII, o governador Jaques Wagner recebeu de presente uma cesta com diversos produtos fabricados por jovens que participam das oficinas do Centro de Atendimento Sócio-Educativo (Case), de Simões Filho. Na ocasião, também houve apresentação de bonecos gigantes e batucada de tambores do grupo cultural Meninos e Meninas do Pelô.

Para o governador, o Cecap representa mais uma ação do estado em inclusão social. “Não há melhor forma de apontar uma esperança para o futuro a não ser treinando essas crianças nos diversos ramos da arte e da cultura. E o fato do centro estar localizado no Pelourinho é uma combinação inteligente, até mesmo pela quantidade de crianças e adolescentes que temos nessa área e que precisam de apoio para se tornarem cidadãos dignos”, enfatizou.

O prédio onde o Cecap funciona recebeu reparos em toda a sua estrutura física – vigas e instalação elétrica e hidráulica. Atendendo a recomendações do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac), também foram recuperados a fachada e o bazar existente no local, que agora ganha o nome de “Loja Solidária”, onde produtos confeccionados nas oficinas serão trocados e comercializados. Divulgando seus trabalhos, os alunos serão contemplados com parte dos recursos arrecadados e serão capacitados com noções de controle de estoque, organização de livro-caixa, balanço financeiro e procedimentos administrativos.

Oportunidades

No Cecap, não faltam exemplos de jovens que superaram as dificuldades e hoje passaram a sonhar cada vez mais alto. É o caso de Cláudio Noronha, 24 anos, que vivia nas ruas e foi abrigado pela Fundac, onde ficou dos nove aos 16 anos de idade. Após ser aluno do centro de cultura e arte, ele agora está sendo treinado para ser monitor. “Me vejo como um exemplo para outros jovens. Muitos tiveram a mesma oportunidade que eu tive e não aproveitaram. Felizmente, comigo foi diferente e eu quero me profissionalizar e me dedicar cada vez mais ao meu trabalho com a arte”, afirmou Cláudio.

Os atuais alunos do centro reconhecem as mudanças que o contato com a arte e a educação trouxe às suas vidas. Colegas no curso de dança, os jovens Juliete Ribeiro, 18 anos, e Jandison Soares dos Santos, 14, afirmam que a auto-estima melhorou e a vontade de dar passos cada vez mais largos aumentou. “Isso aqui representa tudo para mim e me trouxe muita disciplina”, falou Jandison, que está na 8ª série. “Sem dúvida, pretendo seguir carreira”, destacou Juliete, que cursa o 2º ano do ensino médio no Colégio Central.