Que tal ancorar o barco em frente ao Farol da Barra e curtir o som da festa do réveillon no mar, junto com os amigos que vieram da Europa? Esta é a idéia do pessoal da regata Iles du Soleil, que vai deixar mais de R$ 1 milhão em 45 dias de passeio na Bahia.

Os cálculos são da direção da regata, que chegou no dia 21 deste mês das Ilhas Canárias, depois de passar por Cabo Verde e Senegal, na África, e atravessar o Atlântico. Da Bahia segue para o Pará, onde também conta com apoio do governo estadual.

Segundo a programação da regata, os velejadores vão sair do Terminal Náutico da Bahia no dia 5 de fevereiro (terça-feira de Carnaval). São 35 barcos e cerca de 180 pessoas de oito nacionalidades que modificam a paisagem baiana na cultura e na economia.

A ampliação do perfil cultural da regata foi uma das evoluções do evento esportivo de maior duração no mundo, com previsão de quatro meses e meio. A idéia é conhecer bem os lugares que os velejadores visitam, daí o longo tempo de permanência.

Para se ter uma idéia da preocupação com a cultura, o diretor da regata é doutor em Antropologia: Nicolas Tiphagne escreveu a tese sobre os nativos da Ilha de Marajó e como a narrativa fantástica dos seres da água e da floresta os ajuda a viver o cotidiano.

Para Tiphagne, a regata Ilhas do Sol (tradução para o português) se diferencia por oferecer melhores condições de evitar a superficialidade dos cartões-postais, pois os velejadores têm chance de conviver com os baianos e conhecer mais a cultura local.

Vida no mar

Os velejadores franceses, italianos, suíços, holandeses, ingleses, australianos e belgas têm oportunidade de visitar muito além de Morro de São Paulo e Praia do Forte – os destinos mais freqüentados pelos que chegam ao terminal náutico.

Entre as localidades visitadas, os navegadores da Ilhas do Sol estão descobrindo Barra do Paraguaçu, onde o prazer de velejar tem a ver com o visual renovado a cada corrente de vento, e a Chapada Diamantina, ideal para dar um tempo da vela e andar.

O dinheiro que os visitantes fazem circular também é mais distribuído, por conta da ampliação da oferta de passeios. Este ano, o montante esperado quase estará duplicando os R$ 600 mil registrados na edição número 13 da Ilhas do Sol.

As despesas começam logo que os barcos chegam, porque há reparos a fazer nas partes elétrica e mecânica. Empresas e profissionais especializados consertam também os mastros e os equipamentos para guardar peças como a vela-mestra.

Lavanderias, restaurantes, supermercados, lojas de souvenir, empresas de turismo e companhias aéreas são outros clientes dos velejadores, a maioria formada por aposentados que se permitem um tempo livre para aproveitar a vida no mar.

Pousada em Mangue Seco

Dumenil Xavier, do barco Yaz, trouxe até o cachorrinho boxer Patcho, acostumado a navegar desde que nasceu. As duas filhas Agatha e Aurora cuidam do mascote, enquanto o pai faz as manobras e avalia a força dos ventos.

As banalidades da vida cotidiana, como trocar os botijões de óleo diesel dos barcos, trazem um pouco da realidade à qual todos os seres humanos se submetem, mesmo os primeiros velejadores a chegar a Salvador no dia 21 deste mês.

O casal Gerard e Anamaria Saumande estavam nesta batalha de trocar o combustível e, como faz grande parte dos visitantes, foi bater à porta do diretor da regata para saber onde obter o produto no terminal.

Depois de conseguir o óleo, a idéia é velejar e, quem sabe, se bater a paixão por algum recanto da Bahia, há sempre a possibilidade de ficar mais um tempo, como vem acontecendo com os velejadores das cinco regatas internacionais.

Já há gente morando em Mangue Seco, onde um velejador instalou uma pousada, e Guarajuba, que se tornou a nova casa de outro navegador da regata Ilhas do Sol mais recente.