Apenas 100 milhas náuticas separam o veleiro Philine da Baía de Todos os Santos. Tripulado por franceses, o monocasco de 36 pés lidera a flotilha de 35 barcos que, no dia 02 de dezembro, partiu do Senegal, em direção ao Brasil e chega a Salvador neste domingo, 16. Mas, ao contrário dos outros eventos náuticos que aportaram na Bahia nos três últimos meses (Clipper 07-08, Mini Transat e Jacques Vabre), estes velejadores não estão preocupados com patrocínio, prêmios em dinheiro ou com o primeiro lugar no pódio. Para eles, o rally é a melhor maneira de fazer amigos e conhecer o litoral do Brasil, apontado por muitos velejadores estrangeiros como um dos mais bonitos do planeta.

É graças a esta filosofia que, todos os anos, o número de participantes aumenta. "Nesta edição, batemos o recorde de embarcações inscritas. Hoje, aproximadamente 130 pessoas integram o Iles du Soleil, sendo que a maioria dos barcos é tripulada por famílias inteiras. Ou seja, é um verdadeiro clube de cruzeiristas, disposto a viajar e conhecer a fundo a cultura de cada lugar em que o rally for parando", revela Emílio Russel, organizador do evento no Brasil.

A chegada do Rallye Iles du Soleil à costa brasileira revela os primeiros sinais da política de incentivo ao desenvolvimento do turismo náutico internacional no país. De acordo com o relator do Ministério do Turismo, Walter Garcia, a Bahia foi abençoada com a Baía de Todos os Santos e isso fará com que o estado sirva como porta de entrada deste que é apontado como um dos segmentos que mais geram empregos por dólar investido. "Após o Decreto Lei assinado pelo Presidente Lula, que permite que os barcos estrangeiros permaneçam em águas brasileiras por dois anos, a expectativa é de que o número de velejadores cruzando o Atlântico aumente cada vez mais. Se pensarmos que cada barco acima de 25 pés gera de 3 a 5 empregos na área de serviços, poderemos perceber a importância de fomentar a política de atração deste público. Só assim, conseguiremos aproveitar toda a vocação para o turismo náutico que a Bahia possui", afirma Walter.

Os números refletem bem as palavras do consultor de náutica do estado. Em 2006, o mesmo rally gastou cerca de R$ 1 milhão no Pará e, neste ano, a expectativa é que o valor seja ainda maior. Estima-se que durante os 30 dias em que os velejadores permanecerão na Bahia, aproximadamente R$ 800 mil sejam injetados na economia do estado, apenas com alimentação, hospedagem, passeios turísticos e pequenos reparos nos barcos. "Esta parada na Bahia estratégica, pois enquanto são realizados pequenos reparos nas embarcações, os proprietários aproveitam para passear pelo interior do estado e outras regiões do Brasil", diz Nicolas Tiphagne, um dos responsáveis pela organização do Iles du Soleil. Só em 2005, os 22 barcos que participaram do rally gastaram pouco mais de R$ 50 mil em manutenção durante o período em que permaneceram na cidade.

Para Walter Garcia, unir o decreto lei, que aumenta o tempo de permanência dos barcos no país, às condições físicas e geográficas da Baía de Todos os Santos pode ser a melhor maneira de combater a desigualdade social em uma cidade que procura caminhos para reduzir o índice de desemprego. "Náutica é sinônimo de emprego e renda", enfatiza o consultor.