O primeiro carregamento de suco concentrado de laranja orgânica do Nordeste saiu no início desta semana do porto de Salvador com destino à Holanda. O processo de produção é inovador e agregou 50% acima do valor da fruta praticado no mercado para produtores familiares do município de Rio Real, os fornecedores da laranja.

A iniciativa é resultado da parceria entre a Central das Associações do Litoral Norte (Cealnor), a indústria de sucos Trop Fruit do NE, localizada em Estância (Sergipe), e a Secretaria da Agricultura da Bahia (Seagri), por meio da sua Câmara Técnica de Comercialização.

Para atender à demanda do comércio internacional, foi processada a produção das safras de fevereiro e agosto de 2007, totalizando 99 toneladas de laranja-pêra. O suco concentrado e congelado foi devidamente acondicionado e armazenado. Do porto, saíram 28 tambores (7.448 quilos) de suco concentrado e congelado de laranja orgânica certificada pelo Instituto Biodinâmico Rural.

Para o superintendente de Agricultura Familiar da Seagri, Ailton Florêncio, a experiência de exportação do produto orgânico oriundo da agricultura familiar, com um preço justo, cria perspectivas para que outras produções possam abrir o mercado internacional. “A exportação nesse segmento cresce 5% por ano na Europa”, informou.

No Brasil, a agricultura orgânica tem critérios para o funcionamento de todo o seu sistema, expressos no Decreto 6.323, que regulamenta a produção, transporte, armazenamento, rotulagem, comercialização, certificação e fiscalização dos produtos.

Pioneirismo

A produção pioneira foi negociada pela Cealnor com a Agrofair, na Holanda, uma importadora do Comércio Justo e Solidário Internacional que trabalha com a certificação exigida e reconhecida pelo Instituto Biodinâmico Rural. Nessa negociação, cada agricultor familiar recebeu R$ 240 por tonelada de laranja ofertada, além de um incremento de aproximadamente 100%, com a chegada do produto ao mercado europeu.

Segundo o coordenador da Cealnor, Rafael Cezimbra, o importante é que pela primeira vez foi possível organizar a produção orgânica com processamento e certificação. “Isso mostra o fortalecimento da agricultura familiar baiana, que está tornando o produtor cada vez mais autônomo e competitivo”, avaliou.

Existem em Rio Real 10 propriedades orgânicas certificadas, com uma produção diversificada de laranja, maracujá, coco verde e seco, aipim, mandioca, abacaxi e abóbora. Tudo produzido com baixíssimo uso de agrotóxicos e, em muitos casos, sem adubo químico. Além de frutas, esses agricultores plantam milho, feijão, mandioca e amendoim para consumo próprio e para venda ocasional em feiras locais.