A batucada contagiante do Olodum seduziu um grupo de seis músicos chineses que participaram no domingo do último ensaio geral da banda no Pelourinho. E eles não apenas assistiram ao show, mas também tocaram surdos, repiques e tambores, mostrando que são bons de ginga. Afinal, eles integram o SambAsia Beijing, grupo musical criado em 2005 na China e que vem à Bahia pela primeira vez, convidado pelo Governo do Estado. A partir de uma articulação da embaixada do Brasil na China, o convite é resultado de uma parceria entre o governo e empresários que acompanharam o governador Jaques Wagner na viagem à China, em novembro de 2007.

Os chineses ficarão em Salvador até o Carnaval, quando desfilam com o Olodum na sexta-feira, saindo do Pelô em direção ao Campo Grande, a partir das 21h. A participação no ensaio, então, foi uma espécie de aquecimento. Inicialmente, eles acompanharam a passagem dos meninos e meninas da Escola Olodum, para mais tarde se juntarem aos músicos adultos da banda, percorrendo as ruas do Centro Histórico até o momento final no Largo do Pelourinho.

Ansiosa e animada para conhecer o Carnaval baiano, a trupe é formada por Mai, Zoe, Ruby, Slash, Unique e Manu – dois homens e quatro mulheres, todos na faixa etária dos 24 aos 32 anos. Eles nunca tinham visto o Olodum tocar ao vivo, embora já conhecessem a banda por reportagens na imprensa escrita e na TV. Os chineses chegaram a Salvador no final da semana passada e participaram de um workshop na Escola de Música da Universidade Federal da Bahia (Ufba), como forma de se familiarizar com o ritmo da Bahia e não fazer feio na avenida.

Para Nelson Mendes, diretor de cultura do Olodum, é muito importante ter o SambAsia como convidado para o Carnaval. “Podemos mostrar para eles quem nós somos e também aprender bastante com a sonoridade que eles têm para nos apresentar. É um intercâmbio cultural muito interessante”, afirmou. Antes da participação no ensaio, os chineses se reuniram na Casa do Olodum com a diretoria do bloco para acertar os últimos detalhes para o Carnaval. Cada um deles ganhou um kit com um livro e uma camisetaem que se lê “20 de Novembro – Zumbi Consciência Negra – Olodum, o Exército do Samba Reggae”.

As apresentações do SambAsia Beijing são consideradas pelos críticos uma fusão de samba e afoxé brasileiros com o espírito asiático em um hino à alegria e ao ritmo. O grupo, na verdade, é uma comunidade que promove espetáculos de percussão tradicional brasileira e divulga a cultura do Brasil na China. Os seis chineses que vieram à Bahia são apenas uma pequena parte de um conjunto que envolve em torno de 50 pessoas, dentre estudantes, engenheiros, empregados de escritório e designers.

Curiosamente, a formação original do SambAsia veio de São Francisco, nos Estados Unidos, onde seus fundadores, o produtor Lenon Lee e o diretor artístico Jimmy Biala (com formação em música cubana e brasileira) se uniram com o objetivo de combinar a percussão do Brasil com a música e as tradições asiáticas.

A música e a dança do SambAsia são baseadas no modelo das escolas de samba do Rio de Janeiro e dos grupos de axé da Bahia. Na China, seus integrantes já se apresentaram em eventos como o Jazz Festival, o Dashanzi International Art Festival e o Midi Music Festival. O último espetáculo foi apresentado no Worker’s Stadium, em Pequim, diante de uma platéia de oito mil pessoas. O grupo ainda não lançou nenhum Cd e nem pretende lançar. Assim, quem quiser ouvir o samba asiático tem mesmo é que marcar presença nos shows ou esperar até sexta-feira para conferir a apresentação da trupe no Carnaval de Salvador.