O movimento começou cedo no largo da Colina Sagrada, em frente à igreja do Senhor do Bonfim. Ambulantes se instalaram nas redondezas devidamente abastecidos de fitinhas e colares de contas brancas e azuis. Fiéis se ajoelhavam rente aos portões da igreja para rezar, agradecer por graças alcançadas e pedir proteção.

Com uma imagem de Jesus Cristo nas mãos, os irmãos Gabriel e Thalita Tavares esperam pela chegada do cortejo nas escadarias todos os anos, há 25 anos. Esse ano compraram, na feira de São Joaquim, uma estátua ainda maior para ser abençoada pelas baianas porque acreditam que uma tia foi curada de hepatite em função de uma promessa feita ao Senhor do Bonfim. “Depois que a imagem for abençoada, vamos levá-la para a casa de nossa tia no Rio Grande do Sul”, informa Thalita. Gabriel emenda: “Temos uma relação afetiva com o santo e principalmente, somos agradecidos”.

Os turistas registravam tudo o que podiam e se esforçavam para entrar no clima da festa. A Lavagem do Bonfim é uma tradição iniciada por negros escravos no século XVIII. Hoje, por determinação da igreja católica, o templo fica fechado mas uma multidão de devotos, turistas e políticos se reúnem no adro para o ritual da lavagem, comandada por baianas, com água de cheiro e vassouras.

Aos 72 anos, a baiana de acarajé Amália de Jesus participa da festa há 38 anos. “Tenho muitas graças alcançadas e por orientação dos meus guias vou lavar o adro da igreja enquanto tiver vida e saúde”, diz referindo-se aos orixás Omolú e Yemanjá.

Por volta do meio-dia o cortejo principal, formado por baianas que cumprem todo o percurso, e autoridades políticas, como o governador Jaques Wagner, o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, deputados federais e estaduais, vereadores e secretários de estado, subiu a colina.

Aguardavam por ele, 12 filarmônicas, comandadas pelo maestro Fred Dantas, e o grupo Zárabe, de Carlinhos Brown. Em meio ao empurra-empurra da multidão, que queria ver e participar da lavagem do adro, o governador Wagner – acompanhado da primeira-dama, Maria de Fátima Mendonça -, foi recebido com aplausos e abraços pelos baianos.

Com jarros de água de cheiro, vassouras e banhos de cabeça, baianas cumpriram a tradição, lavando o adro, abençoando autoridades, baianos e turistas, numa demonstração colorida e democrática de fé.

“Só tenho a agradecer e pedir força, energia e sabedoria a Deus para que a gente possa fazer um 2008 melhor para toda a nossa gente. O povo reconhece que no primeiro ano fizemos muita coisa. A prova disso é o carinho que recebi durante todo o trajeto”, afirmou Wagner.