A qualidade do ar que abastece os foliões durante o Carnaval de Salvador será monitorada novamente este ano. A pesquisa vai identificar os metais pesados e os gases tóxicos na atmosfera da festa, ao longo de 25 quilômetros de vias, em trechos com pouca ventilação e muita queima de combustível.

O projeto é promovido pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), com a coordenação da bioquímica e pesquisadora Nelzair Vianna, em parceria com os dois principais departamentos de pesquisa ambiental do país na área de poluição atmosférica e das universidades federais de São Paulo (USP) e do Rio de Janeiro (UFRJ).

A grande novidade do monitoramento deste ano é um dispositivo de tubo passivo, um monitor capaz de identificar a quantidade de dióxido de nitrogênio, gás emitido na atmosfera por meio da combustão do diesel utilizado nos trios elétricos, carros de apoio, caminhões de lixo, ônibus urbanos e outros veículos nos circuitos da folia.

A vantagem desse método, segundo Nelzair Vianna, é monitorar individualmente as pessoas que estão mais expostas durante os sete dias de folia, como cordeiros, motoristas, seguranças de bloco, além de ser uma alternativa simples e barata. “Vamos instalar cerca de 50 dispositivos em pessoas que participam da festa realizando alguma atividade operacional. O material ficará inserido em uma capa acoplada à cintura, por exemplo”, disse.

Ela destacou que o método é utilizado pela USP e validado nos parâmetros da Companhia Estadual de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb). As principais conseqüências do dióxido de nitrogênio no organismo, explicou a bioquímica, são irritações da mucosa do nariz, manifestadas por coriza, e danos semelhantes aos provocados pelo enfisema pulmonar, além de alterações oculares.

Locais com maior poluição

Nelzair Vianna informou que os locais com maior incidência de poluição durante o Carnaval de Salvador são o Campo Grande e o Farol da Barra, com as concentrações dos trios elétricos. O nível de partículas poluentes do ar nesses locais chega a 600 microgramas por metro cúbico, em apenas uma hora. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), uma exposição segura é de 20 microgramas por metro cúbico, no período de 24 horas.

O pesquisador da USP, patologista Paulo Saldiva, observou que isso é preocupante, representando riscos à saúde. “A exposição de apenas uma hora num desses ambientes equivale à exposição de 24 horas na cidade de São Paulo, num dia de grande poluição”, comparou.

O secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Juliano Matos, disse que o Estado está transformando o Carnaval da Bahia numa festa planetária “e, acima de tudo, mais verde”. Para ele, a iniciativa atende a uma demanda da população, “que está mais consciente às atividades implementadas pelo governo”.