Mais de 1,5 milhão de garrafas da cachaça Abaíra serão exportadas nos próximos três anos para o mercado europeu. A primeira remessa, de 21 mil garrafas de 700 mililitros, começou a ser providenciada esta semana pela Cooperativa dos Produtores de Derivados de Cana-de-açúcar (Coopama) e pela Associação de Produtores de Aguardente de Qualidade (Apama), situadas na microrregião de Abaíra. Um mutirão de 140 agricultores familiares de cachaça organizou a produção, que deve chegar à Itália, país importador, em março.

A abertura desse novo nicho de mercado é o resultado de um trabalho de parceria encabeçado pela Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), da Secretaria da Agricultura (Seagri), Coopama, Apama e outras entidades do grupo gestor do produto cana-de-açúcar.

“Desde 1984, a EBDA vem trabalhando para o desenvolvimento da cadeia produtiva da cana e seus derivados na microrregião de Abaíra, e a cachaça é o carro-chefe desse trabalho. Além disso, o desafio de inserir o agricultor familiar no mercado internacional tem sido uma das nossas prioridades, em função do retorno econômico que essa atividade proporciona”, afirmou o presidente da empresa, Emerson Leal.

A EBDA, por meio da sua Gerência Regional em Seabra, pertencente à microrregião de Abaíra, mobilizou os produtores, desenvolveu e coordenou todo o trabalho de tecnologia de engarrafamento da cachaça.

Essa remessa faz parte do primeiro lote de 150 mil garrafas que ainda serão exportadas este ano, decorrente de um contrato de exportação, de três anos, entre a Coopama/Apama e uma empresa internacional de importação e exportação da Itália. Está prevista ainda no contrato a exportação de 400 mil garrafas em 2009 e de 1 milhão, em 2010.

“Estamos ansiosos para exportar a cachaça. Sabemos que essa é a saída para melhorar nossa situação financeira”, disse o agricultor familiar do distrito de João Correia, em Mucugê, Wildes Moreira.

A cachaça Abaíra está entre as 20 melhores do país, além de ser um dos atrativos turísticos da Chapada Diamantina, que recebe visitantes de todo o Brasil. Os trabalhos realizados pela EBDA na região servem também como transferência de tecnologia e informação específica de produção de cana para outros produtores ligados ao setor da cana-de-açúcar.

A cultura da cana

A cana-de-açúcar é uma planta totalmente aproveitada, desde a extração do caldo, para a fabricação da cachaça, açúcar mascavo, rapadura e melado, até os seus resíduos, que são utilizados na alimentação animal e como adubação orgânica. O bagaço, a ponta da cana e o vinhoto também são resíduos utilizados pelos agricultores no aquecimento das fornalhas das próprias agroindústrias.

Essa cultura vem sendo explorada em toda a microrregião, e com o apoio da EBDA, via assistência técnica aos agricultores, para a inserção destes no mercado, estão sendo desenvolvidos trabalhos de pesquisa para a produção de cultivares adaptados à região e capacitação dos agricultores familiares.

Hoje, a empresa presta assistência técnica aos agricultores associados à Coopama/Apama, com cerca de 140 beneficiados. Mas a microrregião tem potencial para chegar a mais de mil agricultores familiares assistidos, com áreas onde a média é de 1,1 hectare/agricultor. A EBDA atua também junto às agroindústrias comunitárias e independentes de agricultores familiares em toda a cadeia produtiva da cultura da cana.

Áreas de pesquisa e cartilha

Para avaliar variedades de cana mais resistentes e produtivas adaptadas à microrregião, a EBDA está preparando três áreas de pesquisa. Esse trabalho vai avaliar diversos cultivares em diferentes situações. A seleção de levedura (microorganismos que servem como base para a fermentação de um produto de qualidade) é outro trabalho da empresa, desenvolvido em parceria com a Universidade de Ouro Preto (MG), Ministério da Agricultura e Sebrae.

Uma cartilha sobre práticas e tecnologias para a cultura da cana-de-açúcar e seus derivados também está sendo elaborada pela EBDA para atender aos agricultores familiares da microrregião.