O rapper MV Bill fez, nesta sexta-feira (22), uma palestra no Conjunto Penal Feminino, em Mata Escura, sobre seu livro e vídeo-documentário, “Falcão – Mulheres e o Tráfico”, feitos em parceria com o produtor cultural Celso Athayde. MV Bill esteve no local a convite da Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (SJCDH).

O livro e o vídeo abordam a participação das mulheres que vivem a realidade do mundo do tráfico de drogas. “Fomentar as discussões sobre esse problema é muito mais importante que a quantidade de livros vendidos”, falou o rapper para dezenas de internas que participaram do evento.

Depoimentos e cenas de dor das mulheres que perderam filhos e companheiros para a guerra do narcotráfico foram assistidos pelas internas e autoridades presentes, em exibição de um vídeo apresentado por MV Bill. As experiências do autor revelam que a maioria das mulheres se envolve no tráfico por amor e não tem o reconhecimento esperado.

“Elas não são bandidas de mão armada, mas estão no crime em defesa de seus companheiros”, afirma MV Bill. “Em algumas penitenciárias brasileiras, verificamos (Bill e Athayde) que em dias de visitação, as mulheres fazem longas filas para ver seus companheiros. O mesmo não é feito por eles quando elas estão presas”, acrescentou.

Convencer a sociedade

A identificação que Bill mantém com as comunidades carentes e vítimas do tráfico foi citada pela secretária da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, Marília Muricy, como um instrumento importante no processo de crescimento da autoconsciência. “Esse é um momento de celebração da esperança e do futuro”, definiu a secretária.

A diretora do CPF, Silvana Selem, mostrou ao rapper as oficinas de atividades laborativas realizadas pelas internas da unidade. Bill considerou positivo o desenvolvimento dos trabalhos, porém lembrou às internas que a profissionalização, por si só, não será suficiente para ressocializá-las. “A sociedade ainda não está preparada para recebê-las e ainda é preciso fazer muito para isso”, argumentou.

Preocupada com essa situação, a interna C.S., 24, questionou sobre como convencer a sociedade de que elas acreditam em seu potencial e estão prontas para a reintegração. A ajuda da mídia na divulgação dos programas de ressocialização e seus resultados foi um dos caminhos apontados por Marília Muricy para enfrentar o problema.

O perfil da população carcerária de Salvador não é diferente do encontrado nas outras regiões brasileiras, onde uma parcela expressiva das detentas cometeu crimes ligados ao tráfico. Das 152 internas que se encontram no Conjunto Penal Feminino, 74 estão lá por envolvimento com o narcotráfico, representado quase metade das reclusas da unidade.