É preciso trabalhar e desenvolver um conceito de educação que ajude o cidadão do campo a permanecer em seu habitat, desenvolvendo-o. Essa foi uma das linhas apontadas pela Coordenação de Educação no Campo da Secretaria Estadual da Educação (SEC), durante o VI Encontro Estadual do Fórum de Educação do Campo (FEC) e da Rede de Educação do Semi-árido (Resab), realizado no Instituto Anísio Teixeira (IAT).

Nos diálogos, buscou-se construir conjuntamente um novo padrão de escola para estas regiões que, atualmente, estão aquém das necessidades das comunidades rurais.

A SEC pretende desenvolver em parceria com os povos do campo uma política pedagógica que seja ecologicamente sustentável, socialmente justa, economicamente viável e culturalmente aceita. “É imprescindível contemplar esses aspectos para a construção de uma política educacional que funcione e respeite as características locais”, pontuou José Humberto Torres Júnior, coordenador de Educação no Campo. Ele entende que os conteúdos apreendidos pelos estudantes das unidades escolares do campo devem ser repassados à comunidade, para que esta se fixe à terra e também se prepare para os momentos difíceis.

Em Valente, citou o coordenador, a comunidade conseguiu enfrentar a seca, que é um fenômeno freqüente, através do apoio de instituições como o Movimento de Organização Comunitária (MOC) e a Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira (APAEB). “Precisamos beber nas fontes de conhecimento de todas essas entidades”, ressaltou José Humberto. As políticas de educação serão construídas levando em conta o contexto do aluno, qual o seu habitat e o que lhe interessa aprender, dos pontos de vista cultural e econômico.

Formação de professores

A SEC oferecerá a pelo menos três professores em cada um dos 417 municípios formação de 120 horas em educação no campo. Isso será realizado em parceria com o Instituto Anísio Teixeira, e os professores treinados serão multiplicadores desses conteúdos em suas cidades de origem. “Os professores assinarão um termo de conclusão de curso, onde também se comprometem a ser multiplicadores”, disse José Humberto.

Caso desistam no decorrer do processo, sem motivo de força maior, terão que devolver o valor condizente ao gasto pelo Estado na formação. A fase da multiplicação será coordenada junto às Direc e às secretarias municipais, a quem estão ligadas 90% das escolas do campo. A SEC desenhará mais nitidamente o retrato do ensino do campo no Estado, através de questionário, mostrando qual a estrutura física atual das escolas – número de salas, banheiros e áreas para atividades práticas – e, pedagogicamente, qual o número de alunos que freqüentam as aulas, qual a formação dos professores e qual o interesse dos alunos.

“É preciso saber o que é importante para o aluno do campo aprender”, destaca o coordenador de Educação no Campo. Ele aponta que as experiências educacionais no campo estão defasadas se forem também comparados com os avanços em reforma agrária e concessão de crédito para o desenvolvimento da agricultura. “Ainda há muito alfabetizador que tem que colocar o dedo porque ainda não sabe como assinar um contrato com um banco”, exemplifica.

Saberes da Terra

O programa Saberes da Terra chegará este ano a 60 cidades e ampliará de 300 para 5.700 o número de estudantes atendidos. Em 2007, eram atendidas dez turmas nos municípios de Conceição do Coité, Banzaê e Ribeira do Pombal. O objetivo é desenvolver uma política de educação do campo que possibilite a jovens e adultos agricultores familiares, de 18 a 29 anos, excluídos do sistema formal de ensino, a oportunidade de escolarização na modalidade de Educação de Jovens e Adultos, integrando ensino fundamental e qualificação social e profissional.

Os professores do Saberes da Terra precisam ter comprovada experiência no campo, para que possam também discutir o horário das atividades com os estudantes beneficiados pelo programa. O conteúdo das aulas e atividades práticas deve ser focado na realidade do estudante e deve focar o desenvolvimento da cidadania, da reflexão sobre a etnia, gênero, economia solidária, meio ambiente, além de desenvolver os conteúdos de associativismo, cooperativismo, produção e comercialização dos produtos da zona rural.

O Saberes da Terra, desenvolvido pelo Ministério da Educação (MEC), oferece curso de 3200 horas. Após a conclusão, os alunos recebem o certificado de concluinte do ensino fundamental profissionalizante, podendo depois continuar os estudos no nível médio, em formação geral ou em educação profissional.