Um grande espaço para dizer o que pensa, para expor seus desejos e apresentar suas necessidades ao poder público. Para o estudante Vianey Andrade, morador de Feira de Santana, a Conferência de Juventude da Bahia virou um marco na construção das políticas públicas para os jovens baianos. “A juventude esperou 25 anos para que acontecesse uma conferência como esta. Não poderíamos deixar de aproveitar a oportunidade”, revelou o jovem representante do Portal do Sertão.

A Conferência de Juventude, encerrada, ontem (30), na Escola Parque, em Salvador, além de eleger 41 delegados para a Conferência Nacional, que acontecerá em Brasília, no mês de abril, definiu as prioridades dos jovens entre 15 e 29 anos e realizou uma grande festa para os representantes dos 26 territórios de identidade do estado. Foram quase dois mil jovens reunidos nos últimos três dias e mais de 15 mil envolvidos diretamente com a campanha Jovem Gera Ação.

Durante os três dias de evento, jovens do sul, do extremo sul, do oeste e do sertão, conviveram com as diferenças e descobriram semelhanças. Melhorias no ensino público, implantação de programas de assistência estudantil e políticas para inserção do jovem no mercado de trabalho, reuniram as preocupações da juventude. Para o presidente do Conselho Nacional, Danilo Moreira, as propostas apresentadas pelos jovens revelaram um amadurecimento. “A juventude tem consciência que, para a execução das políticas públicas, são necessários organismos que garantam orçamento, por exemplo. Além de reivindicar esse tipo de espaço, os jovens têm apresentado soluções concretas para seus problemas”, afirmou Danilo ao participar do encerramento da etapa baiana.

Coordenada pela Secretaria de Relações Institucionais (Serin), a conferência realizou 21 plenárias no interior e mais a etapa estadual, em Salvador. No rosto de quem estava participando pela primeira vez de uma grande conferência, novas descobertas. “Não tenho palavras para explicar a emoção de estar aqui. Pensei que fosse igual a regional, mas vi que é bem maior. Acho que, pela primeira vez, o jovem teve voz ativa para vir aqui e falar o que vem na cabeça”, relatou Paloma Oliveira, jovem de Miguel Calmon.

Único estado que adotou as plenárias territoriais como parte integrante da Conferência Estadual, a Bahia foi responsável por uma das conferências mais mobilizadas do país. Durante abertura, na sexta-feira (28), o governador Jaques Wagner assinou um decreto que instituiu o Grupo de Trabalho de Juventude, que terá a finalidade de estudar, elaborar e apresentar os instrumentos de execução da política estadual de juventude. Na pauta, a criação do Conselho Estadual e um Plano que deve nortear as intervenções do estado nos próximos dez anos.


Em busca de espaço

Num país onde os jovens têm pouca voz, a conferência foi a oportunidade que Marcela Indira Cardoso, 25 anos, aproveitou para se manifestar. Natural do Litoral Sul da Bahia, ela reivindica espaços para atuar como cidadã, mas acredita que a iniciativa do Governo do Estado de promover o encontro tinha que ser aproveitada. "Este é um momento ímpar para a sociedade civil organizada e nós não podemos perder a chance de nos colocarmos", afirmou.

Marcela participou da mesa temática Gera Ação tecendo os fios dos territórios de identidade: cidade e campo, em que foi abordada a nova regionalização do estado. A jovem pertence a um dos 26 territórios de identidade que hoje divide a Bahia.

Adotada pelo governo estadual, a metodologia considera aspectos da geografia humana desenhada pelo professor baiano Milton Santos, segundo o qual os espaços são construídos socialmente, sob a influência de características físicas e culturais. A partir desse princípio, entende-se ser fundamental a participação da sociedade na definição das políticas públicas a serem implantadas em cada território.

"Daí promovermos o diálogo permanente com a sociedade. Ademais, a adoção dos territórios faz parte de um planejamento estratégico, que visualiza a Bahia dentro do contexto nacional e global. Então, o que se pensa para o território tem que estar integrado com o que se pensa para um Estado situado em termos de Brasil e de mundo", afirma o secretário do Planejamento, Ronald Lobato.

Para o diretor de Agricultura Familiar da Secretaria da Agricultura (Seagri), Wilson Dias, a importância da abordagem territorial está na inversão da participação do cidadão, que deixa a condição de mero usuário para assumir a posição de demandante.