A preocupação com o desenvolvimento sustentável foi reforçada nesta segunda-feira (17), no segundo dia da II Conferência Estadual do Meio Ambiente (Cema), com a assinatura, pelo governador Jaques Wagner, da adesão da Bahia ao programa Estado Amigo da Amazônia, desenvolvido pelo Greenpeace. O estado é o primeiro do Nordeste e o segundo do Brasil a assinar o documento.

Segundo o diretor de Campanha do Greenpeace, Marcelo Furtado, a adesão ao programa vai ajudar no combate ao grande consumo de madeira ilegal. “A Bahia vai comprar apenas madeira que não venha de desmatamento, fiscalizar e dar a garantia, com ações de comando e controle, de que não faz parte da destruição, mas da solução do problema do aquecimento global”, explicou.

“A nossa postura é muito clara, o Amigo da Amazônia significa que não queremos que a Bahia seja compradora de madeira ilegal, cortada sem pensar na preservação e na sustentabilidade da floresta”, afirmou Wagner. Para ele, o próximo passo é trabalhar para que o compromisso se materialize e que a Bahia possa dar efetivamente a sua contribuição.

Conferência

A conferência, que termina nesta terça-feira (18), tem como tema Mudanças Climáticas, Território e Sociedade. O trabalho é o resultado das 16 conferências realizadas em pólos regionais do interior do estado e vai consolidar as propostas a serem apresentadas na III Conferência Nacional do Meio Ambiente, prevista para maio deste ano, em Brasília.

“Com essa relação aberta à população estabelecida pelo governo da Bahia, temos condições de consolidar aqui no estado uma experiência que pode se estender para todo o Nordeste de forma positiva, envolvendo a sustentabilidade não apenas econômica, mas também social e ambiental”, informou o secretário nacional de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente, Luciano Zica.

Ele disse que o desenvolvimento baseado em lógicas vindas de fora desorganiza as regiões e é um dos grandes responsáveis pelo aquecimento global. “Então, é muito importante a interiorização das ações do governo, a compreensão das populações locais sobre a sua realidade e de que forma elas podem participar do processo de desenvolvimento, aí sim, sustentável”, destacou.

Para o secretário estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Juliano Matos, as relações ambientais são fundamentais para a discussão do desenvolvimento e da qualidade de vida. “É indispensável que a sociedade tenha uma participação tão intensa como esta que está acontecendo aqui na Conferência do Meio Ambiente”, afirmou.

Segundo Matos, a previsão para o semi-árido é de desertificação. “As medidas para serem tomadas e pensadas têm que ser agora. Não vamos deixar para improvisar quando o problema estiver em uma situação-limite”, explicou.

Nesse sentido, o superintendente de Desenvolvimento Sustentável da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Eduardo Mattedi, disse que na conferência será constituída a Comissão Estadual de Acompanhamento das Políticas Públicas de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, que vai envolver as lideranças dos territórios de identidade. “Assim, seremos capazes de acompanhar as políticas que estão sendo gestadas aqui”, observou.

Carta pelas Águas

No evento, foi entregue ao governador a Carta pelas Águas, elaborada por comunidades tradicionais e pelos segmentos juventude, mulheres e crianças durante os Encontros pelas Águas, promovidos pela Superintendência de Recursos Hídricos em várias bacias hidrográficas do estado. O documento contém os desejos e demandas sobre as águas do local onde vivem os povos quilombolas, indígenas, do campo, pescadores, marisqueiras e comunidade de terreiro da Bahia.

A coordenadora do Instituto Nacional da Tradição e Cultura Afro-brasileira (Intecab), Gersonice Azevedo, declarou que é a primeira vez na história do Brasil que as comunidades de terreiro discutem com o governo este assunto comum a todos, que é a água. “Precisamos cuidar desse elemento sagrado, dos mananciais, das bacias e, o mais importante, oferecer água de qualidade a todos”, ressaltou.

Wagner disse que o documento é uma questão fundamental. “O governo marcou, desde o começo, a nossa preocupação com o tema, quando a gente lançou o programa Água para Todos, mas de qualidade e para sempre. Portanto, esta é uma preocupação que está na nossa agenda”, afirmou.

Ele elogiou o debate do tema pela sociedade organizada. “Nem tudo o que for demandado conseguiremos atingir, mas há uma sinergia entre a vontade do governo em garantir um desenvolvimento sustentável e a preocupação das pessoas de preservar o meio ambiente”, destacou.