Pesquisadores e especialistas se reuniram nesta terça-feira (25) para discutir alternativas para solucionar a contaminação por chumbo que afeta a cidade de Santo Amaro, desde a década de 1960. O encontro, coordenado pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado da Bahia, durou o dia inteiro em um hotel de Salvador.

O grupo debateu a viabilidade das técnicas disponíveis para solucionar o impacto no meio ambiente e na saúde da população, causados pela operação da indústria de beneficiamento de chumbo na cidade. Além dos ex-trabalhadores da fábrica, desativada desde 1993, a população que vive na cidade também foi exposta a metais pesados principalmente pelo descuido na disposição da escória de chumbo, rejeito do processo produtivo e com alta concentração de resíduos tóxicos. O problema foi agravado pela utilização da escória na pavimentação de algumas ruas e nos quintais de muitas casas de Santo Amaro.

Logo cedo, foram expostas metodologias mundialmente utilizadas na reciclagem de metais pesados, como aquelas encontradas em pilhas e baterias. Entre as possíveis soluções foram citadas a hidrometalurgia, a pirometalurgia e o encapsulamento. Depois, foi apresentado um histórico das ações desenvolvidas por pesquisadores ligados ao Projeto Purifica, que estudou a extensão do problema e as rotas que levam à contaminação dos moradores da região.

No encontro também foi apresentada a proposta de uma empresa que tem interesse em instalar uma unidade de hidrometalurgia para retirar os metais da escória. O representante foi sabatinado pelos pesquisadores e por membros da Prefeitura de Santo Amaro e dos órgãos ambientais. Novos levantamentos devem ser feitos para auxiliar na determinação da técnica mais adequada para o tipo de material que vai ser manipulado, sempre colocando a segurança e a saúde da população local como prioritária.

Histórico do problema

Durante mais de 30 anos de operação, a Companhia Brasileira de Chumbo (Cobrac), subsidiária da empresa francesa Penarroya Oxide S.A., uma das líderes mundiais na produção de óxidos de chumbo, operou em Santo Amaro. Em pouco mais de três décadas, gerou um passivo ambiental que inclui milhares de toneladas de escória com resíduos de chumbo.

Em 1993, ano em que a empresa encerrou as suas atividades, a escória, resíduo rico em metais pesados, era disposta a céu aberto, ficando exposta à ação do vento e da chuva, resultando na contaminação do solo e das águas.

A área urbana do município também foi afetada a partir do uso indevido da escória, considerada como inócua pela empresa. Milhares de toneladas de escória encontram-se espalhadas pela cidade devido ao seu uso na pavimentação de vias públicas, pátios de escolas e pisos de residências. Quatro anos após o fechamento da fábrica, um levantamento mostrou que em 31,9% das crianças de Santo Amaro o nível de chumbo era maior que o dobro do nível aceitável.