Diabética desde os 10 anos, Andréa Souza e Souza iniciou as sessões de hemodiálise aos 23 anos, em 1997. Dois anos depois, em 1999, já deficiente visual em função da retinopatia diabética, aposentada por causa da doença, foi inscrita na fila para transplante duplo de rim e pâncreas, cirurgia que conseguiu realizar em São Paulo, no Hospital da Beneficência Portuguesa Osvaldo Cruz, em novembro de 2005.
Hoje, dois anos e meio após o transplante, Andréa conta que mesmo durante o período em que fazia hemodiálise três vezes por semana durante quatro horas, mantinha a esperança de um dia a situação mudar e tudo dar certo, mas garante que só agora, depois de receber os dois órgãos (rim e pâncreas) de um jovem de 14 anos, vítima de traumatismo craniano, está plenamente realizada, comendo de tudo e bebendo muita água, o que antes lhe era impossível fazer.
Andréa Souza foi uma das pacientes transplantadas pela equipe do médico Marcelo Perosa de Miranda a dar um depoimento sobre sua experiência e sua vida antes e depois da cirurgia, durante palestra proferida pelo cirurgião esta manhã (26), no auditório do Hospital Central Roberto Santos,. A iniciativa é da Secretaria da Saúde do Estado, através do Serviço de Nefrologia do HCRS, em parceria com a Fundação ABM de Pesquisa e Extensão na Área de Saúde (Fabamed).
Responsável por centros dos mais atuantes em transplante duplo de rins e pâncreas do mundo – os hospitais da Beneficência Portuguesa Osvaldo Cruz e Israelita Albert Einstein, ambos em São Paulo – Perosa falou sobre a situação atual do transplante duplo de rim e pâncreas no Brasil e no mundo, e defendeu a necessidade de um maior incentivo à doação de órgãos em nosso país, sobretudo nos estados do Norte, Nordeste e Centro Oeste, onde a taxa de negativa familiar dos potenciais doadores ainda é bem superior à média brasileira, que está em torno de 30%, índice considerado aceitável.
O evento foi aberto pelo coordenador do Sistema Estadual de Transplante, Eraldo Moura, que falou sobre os investimentos que a Sesab vem fazendo na área dos transplantes, e que já mostram resultados bastante significativos. No ano passado, o número de doação e captação de órgãos foi quase o triplo do ano anterior (2006). Ele destacou, ainda, o projeto de interiorização do programa de transplante, que também já mostra resultados positivos. Hoje (26), Feira de Santana registrou a terceira doação de múltiplos órgãos, no Hospital Clériston Andrade.
São potenciais candidatos ao transplante duplo de rins e pâncreas pacientes renais crônicos que também sofrem de diabetes. A doença é a principal causa de insuficiência renal, e pacientes com indicação de transplante duplo de rins e pâncreas conseguem deixar a hemodiálise e curar a diabetes. Perosa falou sobre as três categorias de transplante envolvendo o pâncreas que podem ser feitos – o transplante só de pâncreas, o duplo de rins e pâncreas simultaneamente e o de pâncreas após rim -, e afirmou que o duplo de rins e pâncreas responde por 80% das cirurgias realizadas.
O transplante só de pâncreas, que responde por 5% das cirurgias feitas nos centros transplantadores de São Paulo, é indicado somente para portadores de diabetes juvenil do tipo 1, dependentes de insulina, e que são portadores do agravo desde a infância e que em geral, começam a apresentar as complicações decorrentes da doença entre os 25 e 30 anos.
Responsável por 15% das cirurgias, o transplante de pâncreas após o rim vem crescendo muito em todos os centros transplantadores. Segundo Perosa, há a indicação dessa cirurgia quando o paciente renal crônico já transplantou o rim mas ainda sofre de diabetes e apresenta algumas das complicações provocadas pela doença. O médico revelou ainda que o transplante duplo pode ser feito com o rim de doador vivo (parente) e o pâncreas de doador cadáver,
Atualmente o transplante duplo de rins e pâncreas é realizado em estados do Sul e Sudeste, principalmente São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. Desde 1999 o Ministério da Saúde estabeleceu uma fila de espera separada para pacientes com indicação do transplante duplo, procedimento que foi reconhecido pelo MS como terapêutica e é custeado pelo SUS.