Cultivar a cana-de-açúcar, cortá-la, passar pelo processo de moagem, fermentação, destilação do produto, envelhecimento e envasamento. Cada etapa medida e testada criteriosamente para que nada fugisse ao controle de qualidade exigido.

Foi assim que a cachaça artesanal Engenho Bahia, envelhecida em tonéis de potumuju, foi aprovada pelo processo de certificação do Instituto Baiano de Metrologia e Qualidade (Ibametro), órgão delegado do Inmetro e autarquia vinculada a Secretaria de Indústria Comércio e Mineração (SICM). O selo de qualidade do Inmetro, que uma cachaça baiana vai ostentar pela primeira vez, é aceito em mais de 70 países.

Localizada na cidade de Ibirataia, região sul do estado, a cachaça Engenho Bahia já havia sido avaliada pelo Ibametro, em 2007. Em seguida, passou pela etapa de consultoria realizada pelo Senai, visando a ajustar os desvios encontrados. Em fevereiro deste ano, solicitou a realização da auditoria de certificação realizada pelo instituto baiano, o que culminou na aprovação do produto.

A empresa faz parte de um grupo que, no ano passado, participou da iniciativa de concretizar a certificação de cachaças na Bahia. Esse esforço contou com a participação da Associação Baiana de Produtores de Cachaça de Qualidade (ABCQ), do Sebrae/Ba, do Senai, da Secretaria de Indústria Comércio e Mineração (Sicm) e da Secretaria de Ciência e Tecnologia (Secti). As demais empresas associadas estão passando pelos últimos ajustes necessários para que, ainda este ano, possam passar pelas auditorias de certificação do Ibametro.

A certificação da cachaça tem como objetivo fundamental garantir ao consumidor a segurança para o consumo do produto. Os requisitos estabelecidos contemplam todo o processo produtivo: da cultura da cana-de-açúcar até o produto final engarrafado. Segundo Flávio Sales, coordenador de certificação do Ibametro, a certificação influencia na decisão de compra do consumidor, pois equivale à confiabilidade em relação ao produto.

Prestígio

Para um dos sócios da Engenho Bahia, Josafar Rebouças, este é o começo de uma nova era para a cachaça produzida na Bahia. Apesar de centenárias, as cachaças artesanais do estado nunca tiveram o mesmo prestígio que as de Minas Gerais, por exemplo. "Sempre oferecemos um produto de qualidade, com sabor fantástico, mas nunca tivemos reconhecimento", lamenta Rebouças.

Para ele, a certificação vai permitir que outros estados conheçam o produto baiano e vejam que as cachaças produzidas aqui não devem nada às de outros lugares do Brasil. "É uma prova de que nosso produto é bom. Vamos poder quebrar o mito de que só em Minas é que existe cachaça boa. A Bahia só não tem a mesma tradição", declara o produtor.

Massilon Araújo, presidente da Associação dos Produtores de Cachaça de Qualidade (ABCQ), criada em 2002, está muito satisfeito em saber que um produtor de cachaça da Bahia receberá o selo do Ibametro/Inmetro. "Para mim é uma grande alegria, pois a nossa luta pela melhoria da qualidade da cachaça baiana já existe há um tempo", conta. Na sua opinião, o produtor tem um grande trunfo para a comercialização do produto. "Ter a cachaça certificada pelo Ibametro, com o selo do Inmetro, significa que o produtor cumpriu itens mais rigorosos e se adequou ao processo", afirma o presidente.

A certificação apresenta vantagens para todos os que estão envolvidos no processo. Para o consumidor é a garantia de que aquele produto certificado foi produzido segundo requisitos de segurança alimentar e, portanto, não vai afetar sua saúde. Para o mercado, cria uma regulação automática entre os produtores, pois as empresas tendem a buscar a certificação para agradar a clientela e nivelar a concorrência.

Traz benefícios também ao governo, pois a certificação representa a inserção de empresas na economia formal e a conseqüente geração de emprego e renda. E, fundamentalmente, ao produtor, que a partir da implementação dos requisitos da qualidade passa a ter um maior controle da produção e melhor aproveitamento dos recursos produtivos, além de contar com um poderoso aliado para diferenciação do seu produto e conseqüente ampliação de mercado.

Certificação

O Ibametro, como Organismo Certificador de Produtos (OCP), participou ativamente do processo de elaboração do Regulamento de Avaliação da Conformidade (RAC), sob a coordenação do Inmetro, tornando-se posteriormente o primeiro organismo certificador de cachaça no país. Em 2005, o instituto baiano certificou a primeira marca no Brasil, a cachaça Triumpho, localizada em Triunfo/PE.

A cachaça sempre foi um produto marginalizado. Segundo Flávio Sales, há uns 10 anos, houve um movimento para diferenciar e melhorar a imagem do produto. Começaram os investimentos no sentido de fabricar cachaças artesanais de classe A e para a exportação. Houve uma demanda por certificação para diferenciar as cachaças de boa qualidade. "Os produtores queriam diferenciar o produto, agregar valor", conta o coordenador.

Na Bahia, existem cerca de seis mil alambiques, com 30 mil empregos gerados pela produção de cachaça e um mercado consumidor cada vez mais exigente e sofisticado. Conseguir o certificado de qualidade de um produto não é algo fácil. Exige muito esforço do produtor e uma mudança no processo de fabricação da cachaça. "Certificação é conseqüência da capacitação profissional e técnica. É mérito", declara Sales.

A empresa precisa se qualificar, formar seus profissionais. Para Josafar Rebouças, essa etapa foi vencida, por meio de um conjunto de esforços. Segundo o produtor, esse ganho é um mérito de todos os parceiros, pois com a ajuda e participação de todos, a Engenho Bahia pôde aprimorar o processo de industrialização e adequá-los aos parâmetros de conformidade.

A avaliação da conformidade é feita em etapas. A de certificação envolve a auditoria do processo mais o ensaio final do produto. O marco zero da certificação é a auditoria inicial. Sendo aprovada, a cada ciclo produtivo ou safra, há uma supervisão do certificado. "Rastreabilidade é o coração da certificação", afirma Flávio, pois a auditoria é composta por uma avaliação completa em todo o processo produtivo, realizada por profissionais qualificados em auditorias da qualidade e com experiência em segurança alimentar. Caso seja aprovada nessa avaliação a empresa recebe um certificado e a licença para o uso da marca de conformidade do Inmetro e Ibametro no rótulo do produto.

Josafar afirma que, nesse momento, o principal objetivo é reconhecer a cachaça no mercado interno. A exportação é conseqüência e só vai ser salutar quando o mercado interno conhecer nosso produto. "Temos que mostrar que a Bahia também é um celeiro como outros estados", completa.

Atualmente, existem 24 produtos certificados em todo o País. O Ibametro é o organismo que maior número de produtos certificou no Brasil tendo aprovado 13 produtos.