Pela primeira vez, a biodiversidade do Parque de Pituaçu está sendo medida, por meio do levantamento estatístico da fauna e da flora encontradas na área. O projeto da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh) é executado por biólogos do Zoológico de Salvador e técnicos do parque, que abriga uma das últimas áreas de remanescentes de Mata Atlântica da capital.

O estudo, cuja metodologia de identificação de espécies é reconhecida cientificamente, prevê o uso de redes de neblina, amostragem por pegadas e fezes, armadilha de queda e alçapão, além de binóculos, câmera e até de armadilha fotográfica, equipamento com sensor de movimentação, que registra a presença de animais, por intermédio de raios infravermelhos. As espécies capturadas pelas armadilhas serão identificadas com brincos e tatuagens.

Segundo Lúcio Freire Júnior, biólogo do Zôo e responsável pelo projeto, o resultado vai constar no inventário do Parque de Pituaçu, já que esses números não existem oficialmente. “Representantes de universidades e da sociedade civil já produziram alguns levantamentos, mas não fizeram o monitoramento da biodiversidade por um período”, explicou Lúcio. Ele disse que dados preliminares vão poder ser apresentados até o final do ano, mas a conclusão dos estudos só será conhecida em 18 meses.

Para fazer um levantamento preciso das espécies ainda encontradas na região, a área do parque foi dividida em 16 blocos. O biólogo explica que, para fazer o estudo, é preciso levar em conta as características de cada um. São consideradas variáveis como a expansão imobiliária, proximidade aos acessos do parque, trechos mais ou menos irrigados, entre outros. “Esse método favorece uma amostragem sistemática da fisionomia do bloco, incluindo o limite de cada animal”, disse Lúcio.

De acordo com o pesquisador, o estudo ainda vai atualizar a situação do animal mais famoso do local, o ouriço cacheiro preto (Chaetomys subspinosus), espécie endêmica que só existe na região de Pituaçu. O animal é um pequeno mamífero ameaçado de extinção, semelhante ao porco-espinho.

Plano

A pesquisa pretende orientar o plano de manejo, que estabelece o conjunto de ações a serem desenvolvidas no local, com o objetivo de proteger a vida silvestre e os recursos hídricos, além de estimular a pesquisa científica. O objetivo do plano é servir de instrumento para fortalecer a gestão das Unidades de Conservação do Estado.

Segundo o coordenador do Parque de Pituaçu, Alessandro Diamantino, o levantamento oficial da biodiversidade vai reforçar o trabalho de educação ambiental na comunidade local, principalmente com as crianças. “Vamos mostrar, por meio de ilustrações espalhadas pelo parque, as espécies de animais e plantas que existem no local, revelando a importância de conservar o meio ambiente”.

Parceria

O estudo feito em Pituaçu vai contribuir para linhas de trabalho de pesquisa também no Zoológico, instituição que já desenvolve estudos comportamentais da fauna brasileira in situ e ex situ (dentro e fora do habitat natural).

Gerson Norberto, coordenador do parque, disse que o trabalho desenvolvido será estendido a outras Unidades de Conservação. “Os dados coletados vão ampliar o universo de informações úteis, em prol da conservação da fauna e da flora silvestre”.